sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"2ª viagem de exploração marítima da guarnição de Diogo Cão"


Consultar.
https://afmata-tropicalia.blogspot.com/2010/01/blog-post_5817.html

Os factos:

O cronista “João de Barros” em “décadas da Ásia” refere:

“….o navegador Diogo Cão, no retorno da segunda viagem de exploração marítima ao longo da costa ocidental africana, subiu o rio Zaire, foi visitar o rei do Congo à sua residência e regressou ao reino…

À luz dos factos conhecidos estas afirmações não correspondem à verdade:

 João de Barros nasceu em 1496. As fontes históricas referentes às viagens de exploração marítima, ao longo da costa ocidental africana das guarnições do navegador, relatadas em “décadas da Ásia”, estão destorcidas. O cronista iniciou a descrição dos acontecimentos trinta anos depois!

2º Iniciada a 2ª viagem   de exploração marítima em Setembro de 1485, a guarnição levava a bordo os quatro africanos que prometera devolver no prazo de  15 luas ou 15 meses à autoridade do Manisoyo da região do baixo Soyo residente na praça de M’Pinda, junto à foz do rio Zaire, local onde os reteve e  trouxe para Portugal no regresso da 1ª viagem.

A atitude foi para salvaguardar os emissários enviados ao potentado do rei do Congo, para que não sofressem quaisquer espécie de injúrias, embora a sua ausência e demora durasse mais tempo do que o previsto.

 Chegada à foz do estuário do rio Zaire em Novembro de 1485, nesta 2ª viagem de exploração marítima, verificou em M’Pinda, que os emissários Martim Afonso e Fernão Martins, ainda não tinham voltado da residência do rei do Congo, que ficava para interior das terras, a 23 dias de caminho terrestre, distância até 40 léguas, 200 Km da foz do rio Zaire. Foi-lhes dito por notícias incertas que ainda se encontravam em M'Banza Congo, residência do rei do Congo. Deste modo, não sabia se estariam vivos, cativos ou mortos.

Fez-se à vela rio acima até chegar ao actual município de Nóqui, Angola, 160 Km da foz, local que já conhecia da 1ª viagem de exploração, e mais próxima da residência do rei do Congo, M'Banza Congo, quando os desembarcou ao encontro do rei dois anos antes, Maio de 1483.

 Em Nóqui,  enviou 2 dos 4 africanos bem vestidos e com ofertas ao potentado da residência, a comunicar à corte e ao rei; Nzinga à Kuvu [Cuum], que os portugueses se encontravam naquele local, juntamente com os seus vassalos, pedindo a libertação dos emissários a troco e restituição dos outros 2 instalados a bordo.

 Um canal de ligação do Oceano Atlântico  ao Oceano Índico, em ZanzibarQuilóa, está representado no mapa veneziano elaborado pelo frade "Fra Mauro". Seria possível navegar pelo rio Zaire até Quilóa,  que fica do outro lado na costa Oriental africana, de forma a encurtar a viagem de navegação ao longo da costa ocidental africana!?

mapa veneziano elaborado pelo frade Fra Mauro, de 1459 a pedido do rei D.Afonso V

Se assim fosse, a guarnição estaria a alguns dias de viagem de atingir o oceano Índico, distância mais curta do que dar a volta para Sul da foz do rio Zaire, onde anteriormente tinha chegado à actual Ponta Redonda do Farol do Giraúl, baía de Moçâmedes, latitude 15º 7' Sul aquando da 1ª viagem de exploração marítima  que suspeitou ser o extremo Sul do continente africano em Setembro de 1483!

Enquanto esperava notícias dos enviados à corte do rei do Congo, o navegador decidiu zarpar  a montante, passando por Matádi até à foz do rio M'Pozo.

Inesperadamente a forte corrente fluvial amainou o andamento das caravelas.

Enormes cachoeiras salpicando a água em forma de catarata alertou a guarnição.

Deu a volta, atracando na margem esquerda junto à embocadura da foz do rio M'Pozo.

A travessia do canal estava assim definitivamente comprometida!

Subiram  a uns rochedos e gravaram as armas de Portugal, o escudo usado naquela época, a cruz de Cristo e nomes de vários homens, deixando para a posteridade a permanência dos portugueses naquele lugar.

6º D. João II deu ordens bem definidas ao navegador para  se encontrar com o imperador daquelas terras, a fim de  se tornar um forte aliado de Portugal.

Após a recepção dos seus dois vassalos na sua M' Banza " residência", situada numa região remota a Sudoeste, 20 léguas, 100 Km, o rei do Congo, decidiu encontrar-se com a guarnição do navegador.

itinerário navegável percurso superior, da foz do rio Zaire até Matádi, localidade da  residência do rei do Congo, M´Banza Congo

O cronista "Garcia de Resende", na crónica de D.João II e Miscelânea, Lisboa, 1991, pág.221, contemporâneo do navegador refere:

O rei do Congo e a sua corte, o qual hindo polla dita cofta com affas perigo, e trabalho, foy ter com a dita armada ao rio de Mainicongo(...)

Festivamente, Nzinga à Kuvurei do Congo e a sua corte, acompanhados de grande  multidão, nu da cinta para cima, com uma carapuça de pano de palma lavrada e muito alta, posta na cabeça, ao ombro um rabo-de-cavalo guarnecido de prata, foram ao encontro da guarnição à localidade Nóqui, recebendo-os amistosamente com grandes estrondos.

Seguiu-se a animação ao som de trombetas, tímbales, trombas e outros instrumentos que usavam.

Feitos os cumprimentos da praxe, o navegador ofertou ao rei do Congo um rico tecido de damasco e muitos outros objectos, a mando de D. João II.

Serviram de intérpretes os vassalos agora chegados,  a guarnição não se "entendia com a língua da gente da terra".

O rei do Congo, ofereceu peças de marfim, objectos de arte, peles de animais, como sinal de uma futura amizade a encetar com o rei de Portugal.

Iniciou-se assim, uma duradoura aliança  entre os dois povos, os  reis do Congo e de Portugal.

Os dois emissários que não viam os seus compatriotas à mais de dois anos regressaram às caravelas, houve contentamento de todos. Conhecedores da língua, trouxeram os conhecimentos culturais necessários das gentes e das terras da região.

Efectuados os festejos, o navegador prometeu numa próxima visita a encetar brevemente, levar para Portugal uma embaixada do rei do Congo, após o regresso desta viagem.

Havia suspeitas e indícios aquando da 1ª viagem de exploração marítima ao longo da costa ocidental africana , a guarnição ter alcançado o cabo mais meridional da costa ocidental africana, o Promontorium Prassum! Era preciso dar continuidade à exploração marítima, pondo à vista a tão desejada passagem para Oriente, na qual os dois Oceanos Atlântico e Índico se misturam, a fim de  prosseguir à descoberta do caminho marítimo para a Índia das especiarias!

Pelo exposto, as afirmações do cronista "João de Barros", não correspondem à realidade.

Não foi no retorno da 2ª viagem de exploração marítima que o navegador visitou o rei do Congo.

O navegador não regressou dessa fatídica viagem, depois de ter atingido o actual  "Cape Cross", cabo da Cruz/Serra, na Namíbia, latitude 22º 10'  Sul.

A guarnição esperou pelo rei e a sua corte, ali em Nóqui, hoje município de Angola, na margem esquerda do rio Zaire, fronteira com a república democrática do Congo, paredes meias com a cidade de Matádi.

O navegador não foi ao encontro do rei à sua residência. A distância que os separava era longínqua e não sabia de notícias dos  mensageiros, enviados ao potentado africano dois anos antes, poria em risco toda a missão planeada.

Não foi por acaso que o navegador, utilizou duma artimanha. Enviou ao rei do Congo, 2 dos 4 vassalos trazidos a bordo e repatriados, salvaguardando deste modo a sua apurada prudência de reaver os seus homens.


2ª Viagem de exploração marítima ao longo da costa ocidental africana

A guarnição voltou a partir do rio Tejo,  em Setembro de 1485. Era o tempo de cumprir as promessas aos africanos de os levar de volta à sua terra.

Saindo de Portugal, seguiu o rumo traçado até às ilhas de Cabo Verde e  de seguida para S. Jorge da Mina, no Gana.

Depois de S. Jorge da Mina, atravessou a vasta curva do Golfo da Guiné, passando pelas ilhas de S. Tomé e Príncipe abordando a costa marítima ocidental africana pelas alturas da angra do Judeu baía do Lekonde, latitude 4º Sul.

Com terra à vista navegou até à angra das Almadiasbaía de Cabinda.

Bordejando a costa para Sul, dobrou o cabo S. Martinho,  ponta do farol de Cabinda, era o dia 11 de Novembro de 1485.

 cabo farol em Cabinda

À latitude 6º 3' Sul entrou no estuário do rio Poderoso, foz do rio Zaire.
 península extrema da margem esquerda e Sul da foz rio Zaire, Ponta do Padrão

Conforme estava combinado dois anos antes, dando conta que os emissários enviados ao potentado do rei do Congo, não se encontravam em M'Pinda, praça situada na margem esquerda a 10 Km da foz do rio Zaire, a guarnição fez-se à vela rio acima.
Por entre margens pantanosas e florestas silenciosas, as caravelas de velas brancas dirigiram-se para o coração do misterioso continente africano.

pôr do sol, tendo como cenário a densa e inóspita floresta equatorial africana do rio Zaire, também conhecido por rio Poderoso e do rio do Padrão, por ter sido chantado pela guarnição de Diogo Cão, Abril de 1483, um padrão dos descobrimentos portugueses.

Avançou sempre contra a corrente cada vez mais rápida, passando pela QuissamaPedra do FeitiçoBoma Nóqui, 160  Km da foz do rio Zaire.

Enquanto das margens árvores frondosas juntam os seus ramos, apertando cada vez mais a claridade, a guarnição realizou algumas aspirações que os detinha:

- reaver os emissários enviados dois anos antes.

- estabelecer amizade com o rei do Congo.

- explorar o rio  além de Nóqui, já que na 1ª viagem de exploração, Maio de 1483, não foi  possível chegar à vista das cataratas de Yellala, o rio na altura corria vertiginoso.

-  estava de facto preocupada em encontrar uma ligação directa e rápida entre a costa Atlântica e a costa do Índico,  de forma a encurtar a viagem de navegação ao longo da costa ocidental africana que tanto risco e perda de vidas causara, o que também obedecia às instruções secretas de encontrar uma ligação  pelo interior de África, através do rio Zaire até às famosas terras do Preste João - rei cristão da Etiópia.

- o canal de ligação do Oceano Atlântico  ao Oceano Índico, em ZanzibarQuíloa, está representado no mapa veneziano elaborado pelo frade "Fra Mauro". Seria possível navegar pelo rio Zaire até Quíloa?

A primeira parte do programa seria mais fácil!

Os africanos, com as suas roupas magníficas, carregados de presentes, voltaram à sua terra cheios de histórias admiráveis para contar.

O encontro dos dois protagonistas, rei do Congo e Diogo Cão,  foi encetado.

Antes disso, o navegador utilizou duma artimanha. 

 rio Zaire, entre Nóqui e cataratas de Yellala, RDCongo
Enviou à residência do rei, 20 léguas de distância, 2 dos 4 vassalos africanos instalados a bordo, a anunciar que ele os seus se encontravam ali em Nóqui, à espera do rei.
 cachoeiras do rio Zaire, perto da confluência do rio M'Pozo
Enquanto isso, decidiu ir mais além, passando pelos redemoinhos conhecidos pelo nome da "Caldeira do Inferno", onde o rio se encarpela ao precipitar-se numa passagem de meia milha de largura com uma velocidade de dez milhas à hora.
Foi espantoso como a guarnição conseguiu passar os barcos e chegar à vista das cataratas de Yellala.
vista aérea do município de Nóqui

O rugido das cachoeiras que abafa os murmúrios da floresta, avisou a guarnição  que não podia avançar!
Adiante abriu-se uma garganta de rochedos onde a água faz redemoinhos!
  

vista aérea do local das inscrições de Yellala

As caravelas deram a volta  e atracaram na margem esquerda, num sítio chamado "rio de peixe",  da confluência do rio M'Pozo, com o rio Zaire da actual cidade de Matádi. 

No livro belga-Etuies Bakongo- do rev.do padre Van Wing, S. J . , missionário de Kisantu, edição de Bruxelas, 1921, à página 35; está a seguinte nota :

"C' est à ce second voyage de Diego Cão que se rapporte l'inscription, trouvée par Domenjos sur un rocher à l'embouchure de la Mpozo".

"É nesta segunda viagem do Diego Cam que se relaciona a inscrição encontrada por Domenjos numa rocha na foz do rio Mpozo"

Não existe nenhum documento em papel ou pergaminho a relatar a chegada da expedição às cataratas de Yellala.
 Inscrições portuguesas nas Pedras de Yellala, a 2000 metros da foz do rio M'Pozo

O viajante ao atrever-se a arriscar a vida trepando até aos rochedos das quedas de Yellala, pode ver as armas de Portugal gravada com os escudetes todos virados para baixo.
Significa serem posteriores à reforma da Bandeira Portuguesa decretada pelo monarca em Março de 1485; ao lado encontra-se uma cruz da Ordem de Cristo, inscrições em letra quatrocentista de estilo Gótico, nomes de alguns marinheiros que foram na expedição, assinalando a presença dos portugueses para a posteridade.
As célebres inscrições nos rochedos de Yellala, perto da confluência do rio M'Pozo com o rio Zaire mostra inequivocamente que os portugueses chegaram àquele local!
A guarnição de Diogo Cão procurou uma saída a montante. As cachoeiras e os rápidos de Yellala travaram o andamento das caravelas!
O rio Zaire torna a ser navegável em Kinshasa, capital da RDC, está à distância de 300 Km para Nordeste de Matádi.
Deixando à guarda da solidão desértica a prova da sua proeza, a guarnição deu meia volta e desceu o rio até Nóqui.
o rio Zaire em Nóqui, Angola, vista para montante

Em Nóqui, demorou-se o tempo necessário por notícias do Manicongo, rei do Congo, e receber a bordo os mensageiros deixados ficar dois anos antes, Maio de 1483.
Não foi em vão que o navegador enviou 2  dos 4 africanos à residência do rei a anunciar a chegada dos portugueses, esperando pelo rei ali em Nóqui.

rio Zaire em Nóqui, Angola, vista para jusante

Ao mesmo tempo os 2 vassalos africanos enviados ao rei do Congo, não se cansavam de exaltar as maravilhas do reino dos brancos.

Os seus amigos que os choravam julgando-os mortas para sempre, ficaram cheios de alegria e espantados por vê-los de regresso com saúde e maravilhosamente vestidos.

O rei do Congo não se cansou de ouvi-los e admirar os presentes que traziam.

A sua alegria ficou completa quando foi ao encontro da guarnição que o esperava ansiosamente junto ao rio.

O navegador ofereceu um rico presente a Sua Majestade, deixando recados de D. João II.

Consistia em " cousas boas, e finas, e de muita valia", num franco oferecimento de amizade e aliança, ao mesmo tempo um delicado convite para o rei do Congo, " abandonar a idolatria e salvar a alma".

Abrandado pelo presente principesco, o coração do monarca africano abriu-se imediatamente à graça divina. Daí a pouco estava "sospirando por sua salvação", declarando sentir-se, realmente, satisfeito em seguir a fé dum rei como o de Portugal, tão sabedor como feliz e as suas convicções serem verdadeiras. Deus não o fez uma criatura assim perfeita para depois o privar do conhecimento da verdade.

O rei do Congo ficou de tal modo impressionado pelo navegador, que muitas perguntas lhe teria feito, ficando renitente em deixá-lo ir embora.

Disse, que iria mandar a Portugal um embaixador - Caçuta - se chamava o homem. Era um dos 4 que estava ali com eles, a falar bem a língua portuguesa. Esperava que D. João II mandasse baptizar Caçuta, que lhe enviasse alguns padres e frades para celebrarem os ofícios divinos. Também carpinteiros, pedreiros, lavradores, padeiras, artífices especializados ensinando as maneiras de viver dos portugueses.

Edificar-se-iam belas igrejas como as que Caçuta descrevera; as mulheres de África fabricariam o pão como as de Portugal; os bois africanos adestrar-se-iam à lavoura; mandar-se-iam a Portugal rapazes a baptizar, aprender a ler, a escrever, a fim de ensinar os seus patrícios quando voltassem à terra.

De futuro o Congo seria como Portugal em África, declarou o rei. Ele próprio estava resolvido a fazer-se cristão.

Grandes notícias aquelas. Caçuta foi enviado como o primeiro embaixador do reino do Congo, trazido na frota de Bartolomeu Dias, aquando do regresso deste navegador após a descoberta do extremo cabo meridional, " Cabo da Boa Esperança" .

As perigosas cachoeiras perto das cataratas de Yellala, puseram de parte as aspirações da guarnição. A rota por via fluvial até Quíloa no oceano Índico estava fora de questão! O canal desenhado no mapa de Fra Mauro corresponderia à realidade?!

Desceu o rio até foz. 

Rumou para Sul até atingir o Promontorium Prassum do golfo arábico do mapa de Fra Mauro, onde, durante a 1ª expedição de exploração marítima, em Setembro de 1483, o supunha ter alcançado!

 costa marítima da baía de Moçâmedes à baía dos Tigres

Além disso - mais importante ainda  - tinha de continuar a sua viagem de exploração a partir do ponto onde a deixara - para dar a volta ao extremo Sul de África e entrar no oceano Índico.
costa marítima e baía de Moçâmedes 

Infelizmente as fundadas esperanças dos geógrafos experientes demonstraram ser tão ineficazes como as dos outros mortais!
 farol sinalização marítima da ponta Redonda do Giraúl, foto obtida da praia das conchas Bambarol

Aquela curva enigmática que Cristóforo Soligo desenhou no seu mapa de modo tão tentador, é precisamente a actual Ponta Redonda do Farol do Farol do Giraúl, entrada Norte da baía de Moçâmedes, Angola.
farol da Ponta Redonda do Giraúl

Em vez de ir direita ao oceano Índico, a costa infinita segue novamente para o  Sul e continua em direcção ao pólo Antárctico. 
no horizonte vista do farol da Ponta Redonda do Giraúl da baía de Moçâmedes

Nem sinais do Promontorium Prassum, nem do mar da Arábia, nem dos povos que praticam escrupulosamente  a fé cristã - unicamente desertos onde linhas de montanhas solitárias se erguem para além de pântanos de mangais, terra desolada sem cidades ou vida própria, habitada por povos que falam línguas desconhecidas.
 costa marítima da baía de Moçâmedes à foz do rio Cunene

Apreensivos pelo inesperado contornou a baía navegando para Sudeste.
costa marítima, do cabo Negro à baía de Tombua

À latitude 15º 40’ Sul, onde do deserto esbranquiçado emerge um monte sombrio que desce direito ao mar, a guarnição desembarcou numa baía adjacente a um cabo escuro, a que designou de cabo Negro. Era o dia  18 de Janeiro de 1486. Deixou mais um dos padrões a desafiar o tempo, o Padrão do Cabo Negro, com as modificações dos escudetes  nele introduzidas pela reforma da Bandeira Portuguesa operada em Março de 1985.
padrão réplica do cabo Negro

baía do cabo Negro

 
costa marítima do Pinda ao cabo Negro, vista para Norte 

De seguida entraram na baía da Angra das  Aldeias, onde existia duas aldeias, Tombua, Porto Alexandre.

Segundo a tradição, foi nesta Angra das Aldeias que no regresso da  expedição, levou alguns habitantes para Lisboa, repatriados posteriormente na expedição de Bartolomeu Dias!. A baía é notável porque oferece uma inflexão esplêndida da costa dum abrigo e porto seguro e exuberância piscatória das suas águas. 
baía da Tombua, Porto Alexandre

  
 região da Iona, baía dos Tigres

Navegando à vista duma costa coberta de dunas e correndo nordeste sudoeste com a "Angra das Aldeias", a quinze léguas, a guarnição  achou uma enseada,  que chamou  Manga das Areias”, Baía dos Tigres, lat. 16º 30’ Sul,  estendendo-se por terra a dentro cinco ou seis léguas, com doze a quinze braças de fundo.

Na segunda metade do século XVII, havia em Angola um povo conhecido por “Ovakwambundo”, em tão atrasado estado cultural, que comia a carne e o peixe crus, assim como todos os alimentos de que usava, semente de gramíneas, casca de certas árvores, raízes, etc., muito provavelmente por desconhecimento do processo de produção do fogo e da falta de combustível para ele; que até a carne de carnívoros aproveitava; que este povo vivia na faixa marítima do deserto do Namibe, nas imediações do paralelo 17º, onde deixou vestígios das suas habitações em pequenas construções circulares com lajes, que ainda hoje se pode observar; que também utilizavam, quando o mar lhos oferecia, e noutros locais mais pobres de materiais de construção, os ossos de baleia para estrutura dos seus abrigos, que, impelidos para o Norte, certamente por pressão de outros povos invasores, vindos de Leste, se fixaram nas proximidades da baia de Porto Alexandre onde nem habitações construíram, limitando-se a utilizar as cavidades que as dunas formam na parte oposta ao lado de onde sopram os ventos; e que, finalmente, aqui, nestas novas paragens, o grupo se extinguiu como unidade étnica, quando a indústria da pesca se estabeleceu e as suas aptidões de gente de longa vivência do mar, puderam ser aproveitadas.”

"Ovakwambundo" um povo pré-banto que habitou a região compreendida entre o vale do rio Curoca e o rio Cunene, desde há muitos séculos, provavelmente empurrados pela invasão dos Bantus,  que existiu até final do séc. XIX, princípios do séc. XX.

“Os negros, referidos por Duarte Pacheco Pereira, aquando da 2ª   viagem da guarnição de Diogo Cão em 1486 à “Manga das Areias”, actual Baía dos Tigres,  eram elementos deste grupo  étnico, pois o tipo de habitações que descreve coincidem com as encontradas por Willian Messum e Alexandre Magno de Castilho e as estudadas pelo Dr. Alberto Machado da Cruz.
costa marítima da baía de Tombua à baía dos Tigres

A vinte milhas náuticas da baía dos Tigres reconheceu  a  Ponta Verde.Tinha  ultrapassando a foz do rio Cunene, sem o avistar.
 ponta Verde, Namíbia

 costa dos Esqueletos, da foz  rio Cunene a Cape Cross, Namíbia

À latitude 20º Sul o "Golfo da Balena", Angra de Rui Pires e Angra de Stº Amaro.
Ao longo duma costa desolada – dunas cinzentas e colinas calcinadas do sol, montes de movediça areia branca, terra deserta onde não podiam encontrar árvores nem habitações humanas, repetição das costas do Sara nas proximidades do Cabo Branco.
As praias cor de neve estendem-se junto duma colina extensa de montes cinzentos e terminam em frente dum cabo onde as ondas se desfazem sobre escolhos baixos e pontiagudos no sopé dum cone escuro, semelhante a uma pirâmide truncada.
cape Cross, cabo da Cruz, Serra, Namíbia
A guarnição implantou o último padrão, encontrado intacto e direito ao fim de 400 anos, em Cape Cross, Cabo da Cruz, ou da Serra- navegou mais 50 Km para Sul, reconhecendo a Praia das Sardinhas  a Ponta dos Farilhões, onde a expedição marítima terá terminado!
costa dos Esqueletos, de cape Cross a Welvis Bay, Namíbia

Da Ponta Redonda do Giraúl, baía de Moçâmedes, Angola, à Ponta dos Farilhões, Namíbia, navegou 420 milhas náuticas, 890 Km de costa marítima.
baía de cape Cross e réplica do padrão

Desconhece-se as razões porque a viagem ali terminou, porém suspeita-se dum infortúnio.
A célebre legenda em latim do mapa de  Henricus Martellus Germanus afirma: " por alturas da Serra Parda o navegador aqui morre", ou notícias dos sobreviventes da guarnição..... " Diogo Cão embrenhou-se por terra a adentro e nunca mais apareceu..." 
A costa por onde navegavam não oferecia quaisquer hipótese de sobrevivência, escassez de víveres e falta de abastecimento de água.
A expedição voltou para trás, tendo chegado quase ao Trópico de Capricórnio, latitude 23º 27’ Sul, não ao limite extremo Sul da  costa ocidental africana infinita.
Não se sabe com exactidão, o que obrigou a retroceder. Quando se pensa naqueles pequenos barcos que só podiam levar mantimentos em número limitado, navegar cada vez mais por mares ao longo de terras áridas, para o desconhecido, o que espanta não é o facto de não terem ido mais longe, mas sim o terem chegado até ali.
Bartolomeu Dias ao passar junto àquela costa em finais de 1487, a caminho da descoberta do extremo Sul de África, ia bem provido de mantimentos.
Na Angra das Aldeias, Porto Alexandre, Tombua, transferiu alimentos para as caravelas  e deixou ficar 9 homens na naveta dos mantimentos, que depois de cumprida a missão no retorno da expedição, iria ser queimada.
Foi avisado pelos sobreviventes da expedição de Diogo Cão, que a partir dali as tarefas de bordo, dia a dia se tornariam cada vez mais penosas.
No regresso da descoberta do Cabo da Boa Esperança, a guarnição de Bartolomeu Dias, depois de escalar a Angra das Aldeias e recolhido os seus homens,   fez-se ao porto fluvial de M'Pinda, rio Zaire,  onde embarcou  a embaixada africana do reino do Congo.
Seguiu para  S. Tomé e Príncipe à procura de Duarte Pacheco Pereira que se encontrava doente de cama.
O navegador tinha sido despachado pelo rei com o fim de conhecer e registar os rios do continente africano, como não pode ir em pessoa, enviou o seu navio para fazer algum tráfego, mas o navio naufragou.
Duarte Pacheco e alguns sobreviventes embarcaram então nas caravelas de Bartolomeu Dias, os quais foram a S. Jorge da Mina, Gana carregar pó de ouro, chegando finalmente a Portugal a 16 de Dezembro de 1488.
Desconhece-se a data da chegada ao reino de Portugal dos sobreviventes da 2ª expedição marítima da guarnição de Diogo Cão.
No entanto há conhecimento de João de Santiago ter pilotado a naveta de mantimentos da frota de Bartolomeu Dias. Partiu do rio Tejo no dia 5 de Agosto de 1487.
A guarnição da armada do navegador Diogo Cão, chegou  ao reino de Portugal anteriormente a esta data!
João de Santiago, pilotou uma das caravelas da guarnição de Diogo Cão.  O seu nome consta no registo epigráfico nas pedras de Yellala !
Deste modo, como a 2ª expedição da guarnição de Diogo Cão é anterior à  expedição marítima da guarnição de Bartolomeu Dias, concluiu-se então que os sobreviventes da expedição de Diogo Cão chegaram ao reino de Portugal antes de Agosto de 1487.
À semelhança da 1ª expedição marítima de duração 20 meses, a 2ª expedição não foi além desse tempo. Iniciada em Setembro de 1485, terminou a finais de 1486 ou inícios do ano 1487! 
     
As inscrições dos Padrões da 2ª viagem de exploração marítima

Padrão do Cabo Negro

O padrão do Cabo Negro foi erigido a 16 de Janeiro de 1486, no Cabo Negro, a norte da cidade de Tombua ex – Porto Alexandre – Angola, latitude 15º 40’ Sul” e longitude 11º 55' Este
 original padrão cabo Negro, sociedade geografia Lisboa


O Padrão do Cabo Negro apresenta semelhanças com o Padrão do Cabo da Cruz, tendo em conta a estrutura e a altura, bem como alguns caracteres indecifráveis no fuste, devido ao seu seu estado de deterioração.

Padrão do Cabo da Serra ou Cruz

O Padrão do Cabo da Cruz (Serra), foi erigido em Março de 1486, actual Cape Cross no Sudoeste Africano – Namíbia, à latitude 21º 47’ Sul e longitude 13º 57' Este

O melhor conservado de todos os padrões, encontra-se em Berlim – Alemanha.
Encimado com a cruz de Cristo original.
De notar que os escudetes, estão todos virados para baixo
Refere duas inscrições, uma em latim e outra em português.
As inscrições abordam o capitel e o fuste do padrão.
A inscrição em Latim como a inscrição em Português referem duas datas:
A da criação do mundo e a de Nº Sr. Jesus Cristo
Na inscrição em latim duas datas – 6684 e 1485
Na inscrição em português duas datas – 6685 e 1485
Porque razão as datas da criação do mundo, em latim e em português arcaico, não são coincidentes!?.
Foram efectuadas em momentos diferentes!
A inscrição em Latim foi feita como limite a data  31 de Agosto de 1485. A inscrição em português depois desse dia!
De notar que o ano Eusebiano 6684, teve início em 01 de Setembro de 1484 e terminou no dia 31 de Agosto de 1485. O ano 6685 teve início em 01 de Setembro de 1485.
A guarnição de  Diogo Cão saiu do Tejo nesta 2ª viagem de exploração marítima ao longo da costa ocidental africana, no  mês de Setembro de 1485, logo a seguir à conclusão das inscrições dos padrões, Revainstain refere-se a este assunto.

Sem comentários:

Enviar um comentário