sábado, 9 de janeiro de 2010

" 1ª viagem de exploração marítima da guarnição de Diogo Caão, para Sul do Equador "

Saída do rio Tejo – Julho/Agosto de 1482

D. João II mandou o navegador Diogo Caão [Cam], seu escudeiro, prosseguir na descoberta de terras além da latitude 2º Sul, da costa marítima ocidental de África.

A guarnição levava víveres para larga demora, numerosos artigos para permutar e presentes aos potentados das regiões africanas a visitar.

Em vez das cruzes de madeira como era habitual os navegadores dos reinados anteriores costumavam colocar nas terras descobertas, as  caravelas transportavam 2 (dois) padrões de pedra calcária.

Nesse propósito, partiu do rio Tejo, Lisboa com duas caravelas, no segundo semestre de 1482, provavelmente no início do mês de Agosto.

Seguindo a rota traçada ao longo da costa ocidental africana, fez escala em São Jorge da Mina, Gana.

réplica caravela Bartolomeu Dias

“A caravela com dois mastros de pano latino, uma coberta e um pequeno castelo de popa, com um só piso, com cerca de 50 tonéis de arqueação. Navio ideal para singrar em mares desconhecidos, pela facilidade com que bolinava (isto é, progredia em ziguezague contra o sentido dominante do vento). A caravela podia navegar junto à costa e entrar em embocaduras de rios: um navio adequado para a exploração marítima.

Foi o maior navio até então empregue nas viagens de descobrimento, representando por isso a vantagem e necessidade de progredir para Sul com uma embarcação capaz de levar os tripulantes até mais longe, combinando uma autonomia adequada com as quantidades marinheiras que as viagens exigiam. A caravela latina de dois mastros protagonizou as viagens de exploração Atlântica até 1488, sem deixar de continuar a ser utilizada depois dessa data em várias circunstâncias
rota S. Jorge da Mina, Gana ao cabo Stª Catarina, Gabão

“ O estabelecimento da feitoria de S. Jorge da Mina foi resolvido por D. João II em fins de 1481, sendo encarregado dessa assaz delicada missão Diogo de Azambuja. Partiu de Lisboa em Dezembro daquele ano, comandando uma frota constituída por dez caravelas e duas urcas. Naquelas seguiam quinhentos homens de armas e cem artífices. Nestas os materiais de construção, já aparelhados, os mantimentos e munições”.

“A frota fundeou a 12 de Janeiro de 1482 defronte ao lugar escolhido para assentamento da feitoria, próximo da Aldeia das Duas Partes, um pouco além da mina de ouro. A construção dos edifícios começou imediatamente e prosseguiu com rapidez. Por vezes os indígenas vinham perturbar o curso dos trabalhos. Diogo de Azambuja, com prudência logrou levar a obra a bom termo rapidamente,

 forte S. Jorge da Mina, Gana

 Após longa demora em São Jorge da Mina, a guarnição fez-se à vela para Sul,  Dezembro de 1482, rumo às ilhas de São Tomé e Príncipe

 monumento de Gago Coutinho, ilhéu das Rolas, São Tomé e Príncipe passagem pelo Equador

Depois de São Tomé e Príncipe, seguiu a rota da ilha de Ano Bom, a Sul do ilhéu das Rolas, descoberta por Pero Escobar e João de Santarém a 01 de Janeiro de 1471, outra versão descoberta por exploradores portugueses sob comando de Fernão do Pó, a 1 de Janeiro de 1473, outra versão descoberta em 01 de Janeiro de 1484, no retorno da 1ª viagem da guarnição do navegador Diogo Caão [Cam].

Navegou para Este  onde alcançou a costa ocidental africana à latitude 2º Sul, Cabo Santa Catarina, Gabão, reconhecido em 1474/75 por Lopo Gonçalves e Rui Sequeira no reinado de D. Afonso V, no dia 25 de Novembro de 1475, evitando deste modo ter seguido o percurso ao longo da costa marítima, desde o castelo de S. Jorge da Mina, Gana.

 ilhéu das Rolas, São Tome e Príncipe

Alcançado o Cabo Stª Catarina, Gabão, retomou  a exploração da costa. A guarnição encontrava-se no momento, na presença duma costa totalmente desconhecida para Sul deste cabo.


Está o cabo de Santa Catarina em 1º 52'Sul e 9º17’30” Este; Visto do Norte dá seus ares de ilha, por se despegar muito do continente o arvoredo que o coroa ; representa-se porém talhado a prumo, a quem o avista do Sul. Por entre as vizinhanças do cabo de Santa Catarina e as do rio de Cama se dilata um baixo de areia e pedra, que se aparta obra de duas milhas da costa, e floreia muito; para Oeste dele se pruma em 13 metros. Passado o cabo parece montanhoso o terreno por se empolarem nele várias colinas; nada consta porém ao certo, por não ter sido ainda visitado, e só se pôde afirmar que já não é alagadiço ; de espaço a espaço se mostram abertas, por onde se vêem terras como que amanhadas. Corre a beira-mar coisa de 63 milhas para SE3/4S. entre o cabo de Santa Catarina e a ponta das Pedras: é toda baixa, com praia estreita de areia por sítios, e arvoredo por outros e dele partem suas pontinhas, a mais bojante das quais fica perto da foz do rio de Sesta

 trecho da costa ocidental africana, do cabo Stª Catarina à foz rio Zaire

O método de navegação, se era vantajoso por permitir um meticuloso conhecimento da costa, não era isento de graves dificuldades, estavam a navegar contra correntes e ventos contrários!

Duarte Pacheco mais tarde ainda aconselhava, “sabendo pouco a pouco o que nella hia, a asy suas Rootas e conhecenças, e cada província de que gente era, pela verdadeiramente saberem ho luguar em que estauam, por onde podiam seer certos da terra que hiam buscar” [Esmeraldo de situ orbis].

Seguindo para Sul, depois do cabo Santa Catarina, Gabão, a guarnição reconheceu sucessivamente:

angra “, Sette Cama, Gabão – 2º 30’ latitude Sul [mapa de Cristóforo Soligo1485/86].

 Sette Cama, Gabão

aguada“, baía da MayumbaGabão – 3º 22’ latitude Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].

 Mayumba, Gabão

"Serra de Sam Sprit" -Basse-Banio Gabão 3°25'45.0" Lat. Sul, 10°41'17.7" Long. Este [mapa de Pedro Reinel 1485 e planisfério dito de Cantino 1502] 

as duas montas”, Mamas de Banda, Gabão – 3º 47´latitude Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].

 Medras, Gabão

Esmeraldo de Situ Orbis de 1502 – Duarte Pacheco Pereira:

"Adiante do cabo Santa Catarina são achadas umas barreiras vermelhas sobre o nível do mar as quais distam uma légua mais ou menos. Ao longo da ribeira são razoavelmente altas e jazem do dito cabo  Santa Catarina noroeste e sueste e toma a quarta de este e oeste e a vinte léguas na rota e estas se apartam em latitude da linha equinocial contra o pólo antárctico cinco graus e desta terra é de muito arvoredo e povoados e ali há nela muitos elefantes e outros muitos animais de diversas espécies".

"Doze léguas além das ditas barreiras vermelhas são achadas duas grandes moitas sobre o nível do mar que é mais alto o seu arvoredo que todo o outro e ao longo da ribeira tudo é praia e costa brava e esta terra não é alta nem muito menos é baixa senão num meio razoado e jazem as ditas barreiras vermelhas com estas moitas noroeste e sudeste e tem as ditas doze léguas como dito é".

apraia fremoxa”, LuangoBrazaville] – 4º 38’ latitude Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86]. "praia formosa "[ mapa de Pedro Reinel 1485],

praia do Loango, R.Brazaville

"angra do Judiu"Loango Congo 4°39'32.5" Lat. Sul, 11°48'18.2" Long. Este [ mapa ude Pedro Reinel 1485] golfo del judeo,  Martellus, Henricus Germanus- Insularium Illustratu, de 1489

barrocas dos Favais ”, [Diosso- Loango,Ponta Negra – Brazaville].’ 4°37'39.5" latitude Sul 11°50'11.9" longitude Este [ planisfério dito de Cantino 1502].

Diosso- Loango, R.Brazaville

aSera da praia formoxa de .S. domenego”, [Ponta Negra – Brazaville].’ 4°45'29.4" latitude Sul12°05'51.6"´long Leste [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86, Serra de .S. domingos, portulano de Colon Cristóvão de 1492].
 praia a Sul de Ponta Negra, R. Brazaville

aponta blancha”, [Lândana - enclave de Cabinda] – 5º 13’ lat. Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].
 foz rio Chiloango, Lândana

aponta da bareira vermelha”, [Cacongo – enclave de Cabinda] 5º 14’ lat. Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86], "barreira vermelha"[ mapa de Pedro Reinel 1485],
Cacongo, Cabinda

"angra das almadias" [ baía de Cabinda e Malembo] 5º 33’ latitude Sul [ globo de Behaim, Martin de 1492, portulano de Colon Cristóvão de 1492]. "G: das almadias" [ mapa de Pedro Reinel 1485],
 baía de Cabinda


 costa marítima  Sul de Cabinda em Nsiamfumu,RDCongo



 farol  da Muanda, RDCongo

Esmeraldo de situ orbis – Duarte Pacheco Pereira;

"Partindo das ditas duas moitas com vinte e cinco léguas de caminho ao sul - sudoeste é achado um grande rio a que nós agora chamamos o rio do padrão o qual mandou descobrir o sereníssimo Dom João o segundo por Dieguo Caão cavaleiro de sua casa do ano de nosso Senhor de mil cccc e oitenta e quatro anos e este rio se aparta da linha equacional contra o pólo antárctico sete graus em latitude; e no inverno desta terra que é do mês de Abril até fim de Setembro trás este Rio tão grande corrente de água doce que em trinta léguas em mar se sente a força dela e porque quando o descobriram puseram na terra da boca na parte dalém do Sul um longo padrão de pedra com três letreiros sendo um em língua latina o outro em português o outro em língua arábica por esta causa lhe puseram nome do Rio do Padrão do qual tem no canal de sua boca oito a dez braças de água de altura e aqui é o reino do Congo no qual no capítulo seguinte falaremos e os ditos letreiros falam do Rei que o mandou descobrir e em que tempo".


ponta do palmar, extremo margem direita da foz rio Zaire, Banana RDCongo

capo do paul”, [ República Popular do Zaire Kinshasa] 5º 56’ lat. Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].  "palmar" [ mapa de Pedro Reinel 1485],

"atam  agua dolje zinque liges alamar - rio poderoxo, rio Zaire 6º  lat. Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86]. Rio do padrão, R. poderoso [mapa de Pedro Reinel 1485],
foz do rio Zaire ou Congo, o provável trajecto da guarnição da frota de Diogo Cão 

Chega ao Rio Zaire - Abril de 1483

Passado aquele Cabo,  deparou-se a 23 de Abril de 1483, dia de São Jorge, uma corrente de 15 km de largo, barrenta e rumorejante que invade o mar com violência de catarata, trazendo consigo, em remoinhos, ilhas de capim, troncos raptados à margem, ramos estilhaçados, toda a triste e aflitiva bagagem das grandes inundações.
É a embocadura de um grande rio, “Rio Poderoso” [Rio Zaire ou Congo], como lhe chamou alguém da frota, conhecido depois por “Rio do Padrão”.
A curiosidade da guarnição, já de si aguçada pelo facto de navegar em novos mares, despertou esta inesperada circunstância.
À medida que navegava, experimentou os efeitos de uma corrente vertiginosa que corta o mar perpendicularmente à costa:
o estuário e foz do rio Zaire 

Torneando, atravessou a corrente da embocadura do rio. A  armada foi ter a um majestoso estuário de margens baixas, margem esquerda junto à foz.
península extrema ou ponta do padrão na margem esquerda e Sul da foz do rio Zaire

Viram uma península, língua de terra, bocado de terra frisada, que avança pelo mar como braço recurvado de muralha a proteger um ponto,  olha de um dos lados para o Atlântico e do outro para a foz do Zaire, arribou as caravelas.
Festivamente, a guarnição desembarcou, a que pelo grande volume de águas e impetuosidade da corrente, logo chamou de “rio Poderoso”, conhecido depois  por "rio do Manicongo" e mais tarde  rio do Padrão.
foz  estuário rio Zaire, península extrema margem esquerda, Ponta  Padrão, Sazaire, Soyo

Em M' banza Malele, praia fluvial do Soyo, hoje porto e estaleiro fluvial petrolífero da cidade, a guarnição  encontrou um pescador, Ndom Lwolo, um súbdito da rainha Malele Kya Nsi, nome que figura entre os primeiros da lista dos soberanos do Mfutila Neanda, o "Soyo de baixo".
 estuário rio Zaire, porto estaleiro (Gás)da Muanda em construção, Soyo, Sazaire, 

O navegador perguntou o nome da terra, o pescador respondeu: "Kinzadiko", "não sei". Ao interrogá-lo sobre o nome do grande rio, Ndom Lwolo respondeu: "Nzadi", "rio".
O visitante concluiu que o rio se chamava "Zaire".
O navegador manifestou o desejo de ser apresentado à rainha. A soberana foi informada deste acontecimento e desta solicitação. Lembrou-se do seu antepassado Nezinga que recebera ordens do tio, o Ntotila/ Manicongo, impedindo-a de, como seu soberano, estabelecer relações com povos estrangeiros. A rainha recusou qualquer contacto com os visitantes, mandou-os conduzir a M'banza Kongo....”
Os habitantes do Soyo, gente pacífica, ao verem surgir das grandes águas navios e homens nunca vistos,  não fazendo parte da sua taxionomia habitual, começaram a gritar em sinais de admiração.
 Iluminura assentamento padrão S. Jorge
No século XVII, em 1694 um missionário italiano Bernardo de Gallo, recolheu as primeiras imagens gravadas nas memórias dos mais velhos, transmitidas de geração para geração:

«..multidão de pessoas do Soyo, vendo a novidade dos navios, sem saber que coisa aquilo era, começam a gritar com sinais de admiração, amindele, amindele, igual a mudele, branco na significação actual, naquele tempo, amindele significava coisas, como baleias, que vêm do mar..»

Os Zombo, da Origem ao Declínio do Reino do Kongo, História do Reino do Kongo, portal do Município da Damba (Angola): 

«..Os povos ribeirinhos que primeiro avistaram os portugueses, ao vê-los mais de perto, com aquele tom de pele, aqueles olhos de cor diferente da sua, aquele nariz afilado e os lábios finos, fizeram-lhes lembrar deuses, até porque vinham do mar. Miravam-nos muito mais espantados que amedrontados, afinal os visitantes eram tão poucos e frequentemente pareciam muito doentes, (ainda nos finais da década de 40 e 50 do século passado, no interior mais profundo de Angola isso acontecia). No entanto, para este povo kongo que considerava o mar domínio dos mortos, aqueles homens podiam ser espíritos e representar os seus antepassados. Foi um grande acontecimento (insistimos em afirmar que um capitão experimentado em contactos anteriores, como era o caso de Diogo Cam [Caão], não deixaria nunca de enviar a terra primeiro os seus língua e demais embaixadores afim de auscultarem as reacções das populações, através dos língua autóctones). 

Embora não estabelecesse contactos com a rainha “Malele kya Nsi”, o navegador foi aconselhado a ir ao encontro do “Manisoyo”, Ndom Malele kya Nsi, chefe e soberano local, representante do rei do Congo, à praça de M’ Pinda,  10 km da ponta do Padrão.
Dos habitantes do baixo Soyo e do Manisoyo, residente em M’ Pinda, souberam os portugueses que os locais dependiam dum grande potentado, “o Manicongo”.
A sua corte ficava na “M’ Banza real”, "residência" do Congo, para Sudeste, no interior das terras, a 40 léguas de distância do baixo Soyo, cujo império se estendia largamente por ambas as margens do rio, e muito para Sul da costa africana.
 "capo do patrom", cabo do Padrão, p. do padrom, ponta do padrão  6º 7'  lat. Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].e [portulano de Cristóvão Colon de 1492]
o original do padrão de S. Jorge, na Sociedade Geografia de Lisboa, segundo Edgar Prestage foi destruído pelos holandeses  em 1643, reconstruído em 1648 foi  novamente destruído no ano de 1852 pelos Ingleses.  

A 26 de Abril de 1483, na presença de alguns habitantes e do Manisoyo, autoridade local, a guarnição ergueu  à latitude 6º 7' Sul e longitude 12º 33'  Este, e
levação: 6m / 20 pés,  na península extrema e ponta meridional, Moita Seca, margem esquerda na foz do rio, onde 3 dias antes tinham arribado, o Padrão de S. Jorge, “ como quem toma posse por parte de el-rei, de toda a costa que leixaua atras” (Ásia, Década I, João de Barros, liv.II, capº.3), seguida de celebração de missa.

4ª réplica padrão  S. Jorge, península extrema  margem Sul e esquerda foz  rio Zaire
De 1383 a Março de 1485

Nos reinados de D. João I, D. Duarte e D. Afonso V as armas reais apresentavam poucas alterações, sendo de notar as primeiras referências aos escudetes como “quinas”.
- Fundo branco
- Cinco escudetes azuis dispostos em cruz -os laterais apontados ao centro-
- Os escudetes possuíam cinco besantes (dois pontos - um ponto - dois pontos)
- Bordadura vermelha
- Diversos castelos dourados na bordadura
- Flor de Lis,  quatro pontas da cruz verde florestada da Ordem de Avis dispostas em cruz na   bordadura

Estabelecida a certeza da existência do potentado, em obediência às instruções recebidas do próprio D. João II, que lhe mandou proceder de forma a ganhar a confiança dos povos que encontrasse, a abraçar o cristianismo, escolheu 2 portugueses idóneos para levarem ao imperador um presente, de muitas coisas variadas umas das outras.

E lhe mandou dizer como há dita armada era D’el-rei de Portugal, que com todo o mundo tinha paz e amizade. E por lhe dizerem quam grande Rey elle era, desejando de ha ter com elle, e muita prestança, e trato, o mandaua buscar, dizendo-lhe logo o proueito e honra que aos seus e a sua terra dahy lhe poderão vir (Crónica de el-rei D. João II, Garcia de Resende, Cap. CLV). 

O navegador decidiu enviar ao potentado dois emissários, com ofertas e presentes. Seguiram de M’ Pinda para a M’ Banza Congo, por via terrestre, 23 dias de caminho, acompanhados por guias do Manisoyo!
réplica padrão  S. Jorge, península extrema margem esquerda foz  rio Zaire

A grandiosidade do rio despertou a curiosidade da guarnição. Sondou e explorou o estuário, navegando muitas milhas para o interior. O mapa de Soligo releva os contornos do estuário e embocadura, e grande parte do percurso superior do rio Zaire.
Foram dois meses de exploração, Maio e Junho de 1483.
 itinerário navegável do rio Zaire/Congo, da foz até Matádi
Porém, nesta acção exploratória, velejando para o interior, os emissários enviados ao rei do Congo foram largados perto de Nóqui, localidade mais próxima da M’ Banza real!
A comitiva seguiu por via terrestre até à M’ Banza CongoManisoyo, residente em M’ Pinda, cedera a pedido do capitão, alguns guias que os acompanhou.
 rio Zaire em Nóqui  .

Esmeraldo de Situ Orbis – Duarte Pacheco Pereira;

Do terceiro livro capº 2º do “Esmeraldo de situ orbis” do Reino do Conguo e da terra dos antigos onde comem os homens.
Por este Rio do padrão acima do qual atrás no último item deste terceiro livro é escrito estas do Reino do Gonguo e em sua língua chamam a este Rio Emzaze o qual nasce numas terras cinquenta léguas no certaão apartadas das Ribeiras do mar pela dita distância; outros muitos Rios entram em Zaze que o fazem ser tão grande como ele é, e nele há muita e grandes almadias com que se servem os negros desta terra; é muito doentio de febres e até é de muita pescaria; esta gente chamam por Senhor many e por isso dizem em sua linguagem manicongo que quer dizer senhor do Conguo;
Tanto que o sereníssimo Rei Dom João descobriu esta terra logo trabalhou de fazer manicongo e sua gente cristã e a isso mandou lá frades e clérigos para lhe ensinarem as coisas da fé, os quais levaram ricos ornamentos de Igreja, órgãos e outras coisas necessárias. Vendo manicongo e os fidalgos e outra gente a missa e todo o outro ofício divino foram todos muito contentes e logo ele com seus fidalgos e outros homens principais se baptizaram e fizeram cristãos, e não quis que outrem o fosse dizendo que tão santa coisa e tão boa não devia ser dado a nenhum vilão, somente lhe foi grave deixar de ter muitas mulheres como sempre tiveram, e disto os não puderam mudar; mas pela pouca participação que com esta gente temos a doutrina entre eles se vai perdendo quanto pode;
Item; Nesta terra de maniconguo não há ouro nem sabem que é, mas nela há razoadamente  cobre muito fino e aqui há muitos elefantes e ao elefante chamam Zaão os dentes, dos quais resgatamos , e ali há cobre por lenço ao qual os negros desta terra chamam molele; neste Reino do Conguo se fazem bons panos de palma de pelo de veludo e deles com lavores como cetim veludado tão formosos que a obra deles se não faz melhor feita em Itália; e em toda a outra Guiné não há terra em que saibam fazer estes panos senão neste Reino do Conguo; nesta terra se resgatam alguns escravos em pouca quantidade e até agora não sabem que aqui haja outra mercadoria.
Item; adiante desta terra do Conguo aparta do nordeste é sabido  outra província a que chamam anzica e o senhor há nome agora em nossos dias em cuqua- anzico estes são negros como os do Conguo e são serrados na testa ou fonte em roda de maneira de caracol; e as mais das vezes têm guerra com maniconguo e qualquer homem que morre na guerra ora seja dos seus ora dos alheios logo o comem e ali comem qualquer outro que é doente em tal extremo que lhe parece que pode morrer; e esta terra é metida muito no certaão e halonguada da Ribeira do mar e se nela há alguma cousa de proveito até agora o não sabemos;


Após algum tempo de espera, como a comitiva não regressava da residência do Manicongo, dando notícias, a guarnição não se deteve no local, Nóqui. Desceu o curso do rio até à foz e  prosseguiu a viagem de exploração da costa marítima para Sul da foz do rio Zaire
 
  costa marítima de Angola, foz rio Zaire à foz do rio Loge
costa marítima para  Sul  da foz rio Zaire

Navegando de costa à vista observou a "terra vermelha" 6º 19'' latitude Sul [portulano de Colon Cristóvão de 1492].
área costeira da praia do canhão, Soyo

N'Zeto, Ambrizete 

A 80 milhas náuticas, a milha marítima = 1850 metros,  da foz do rio Zaire atingiu o “Cabo Redondo”, cabo do farol do N’ Zeto – Ambrizete 7º 14’ latitude Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].
pedras sobrepostas na Musserra, município do N'Zeto- Ambrizete

 latitude 7º 32'17" Sul, foi observada a Serra Formosa, actual Mussera, planisfério  1502 dito de Cantino. 
foz  rio Loge e barra e lagoa  do Ambriz

A 22 de Julho de 1483, a trinta e seis   léguas, cada légua marítima = 5.555 metros, pouco mais ou menos do rio Zaire chegou à foz do rio Loge, a que chamou de "rio damadanela", latitude 7º 48' Sul [ mapa de Cristóforo Soligo de 1485/86, onde fundeou alguns dias, na sua foz, pouco ao Norte da actual vila do Ambriz, explorando a barra e lagoa adjacente ao actual município do Ambriz. À Ponta a Oeste da entrada da Barra e Lagoa do Ambriz, foi designada de Ponta delgada", planisfério de 1502 dito de Cantino. 

Estende-se a ponta setentrional da baía do Ambriz, a que alguns chamam ponta do Loge, e que é baixa e de areia, obra de 3 milhas para NO1/2O. da entrada do Loge; dela parte um recife para o mar, e será por isso prudente dar-lhe umas 2 milhas de resguardo. A 4 milhas da precedente, e em 7º 52' Sul e 22º11'30''Este, se levanta um morro alto, esbranquiçado e talhado a pique, sobre o qual se alardeiam várias feitorias europeias: chama-se Morro do Ambriz. Deste mesmo morro ou ponta se dispara uma restinga obra de 2 milhas para Oeste, o que faz com que se lhe deva dar resguardo de umas 3 milhas, e de outras tantas para Norte, de modo que fecha quase a baía do Ambriz, e ampara o seu tanto o desembarcadouro; se bem se achem 6,5 e 8 metros à terra desse baixio, nem mesmo embarcações pequenas devem ali surgir». Do morro do Ambriz para Norte se encurva a beira-mar, a qual é moldurada de praia de areia até ao rio Loge, e vestida, mormente nas vizinhanças do rio, de mangal muito alto, boa conhecença para essa parte da costa; perto, mas extremado desse mangal, cresce um bosque de árvores escuras, que serve de marca para os escaleres, que tendo partido do ancoradouro demandarem a desembarcação. Mais para o sertão se alteia uma cordilheira de granito com seus arbustos enfezados, na qual se conta o monte do Quincolo, que teve por vizinha, na beira esquerda do Loge, uma fortaleza nossa, concluída, armada com artilharia e guarnecida, no ano de 1791 ; dorme a sua artilharia, segundo dizem, nos fossos já atulhados. Despeja rio Loge, do Ambriche, ou dos Ambres, em 7º 51’ Sul e ao fundo da baía do Ambriz, e serve de limite Norte ao reino de Angola, posto que ao dizer de José Accursio das Neves, tal limite se deva colocar no Equador, ou no cabo de Lopo. Dado tenha a boca totalmente fechada, é rio de cabedais, pois tem dentro por longo espaço 3,6 metros de fundura. Banha o rio Loge terrenos férteis, que se estende na base das montanhas de que acima falamos, e nas encostas destas se acham disseminadas várias povoações, cujas principais são Koro, Kuanda, Kiverna, Baramputo, Bonga-Bonga, Mundelé, Gundú, Vinda, Juanna, Efuni, Kassi, Gonnbe, Asembo, António Nasso, Serné, Embé, Fula Baman, Masunganbombe, Tambuque e Amossula. Há quem lhe dê umas 80 léguas de comprido, e recebe, lá para o sertão, as águas de vários afluentes, como o Quifuba, o Cananbinga, o Zungo, etc.  Indo do N. em demanda do ancoradouro, costeie-seà distância de 2 milhas a ponta de Loge, e fundeie-se em 15 metros, para NO. do morro do Ambriz, e Oeste do Loge, por modo que o edifício da alfândega ressaía todo do morro do Ambriz, que o encortinava, recomenda-se como bom o ancoradouro em 12 a 14 metros, para NO1/2N, magnético, do morro. Indo do Sul em demanda daquele fundeadouro, dê-se resguardo de 3 milhas ao morro do Ambriz. De bem longe se, verá o mangal, excelente conhecença. É também para aquelas paragens óptima baliza a montanha com feitio de sela, que se ergue para o sertão. Sopra geralmente a viração de entre Sul e SO., e se reveza com o terral. É ordinariamente muito incómodo o ancoradouro do Ambriz, por correr do SO. a vaga, e apanhar quase sempre o navio de través. Querendo ir para terra, o que só se pôde em não havendo calema forte, puxe-se para até à disâancia de 100 metros da foz do Loge, costeie-se depois a terra do mangal e toda a costa, até defronte com a alfândega (ao sopé do morro) onde se pode atracar, ou, sendo isso perigoso, passar para canoa que atraque. Ocasiões há em que podem passar os escaleres por cima do baixo em preamar, pois se encontram ali para mais de 7 metros ; acontece porém a miúdo parecer que o mar está chão, e quebrar de repente. Quando desaba calema naquelas paragens, o que é frequente, começa a formar-se o rolo no paralelo da foz do Loge, uns 500 metros para Este do ancoradouro dos 13 metros. Para Norte dessa latitude podem os navios acercar-se mais da terra, e surgir, posto que não sem risco, nos 6 metros. Um paul (barra com salinas)) dilatado se estende para Este do morro do Ambriz, e para um e outro lado do rio Loge; aquelas águas encharcadas se hão-de, principalmente, imputar a ruindade do clima do Ambriz, e os nevoeiros que, na quadra própria, carregam por ali. Abunda o marnel em peixe e aves aquáticas, e com as suas águas se lotam as do mar, em ocasião de marés fortes. Posto fosse portuguesa, já de muito, toda aquela costa, e já em 1779 se ordenasse a construção de um forte, que de feito se construiu em 1791, só a 15 de Maio de 1855 se ocupou novamente o Ambriz; para logo se deu principio à fortaleza, que se levanta sobre o morro, à alfândega, que senhoreiam na praia, etc. Também de então é que data a construção de muitas de suas casas. Podem-se tomar no Ambriz alguns refrescos, e negoceia-se muito em marfim, courama, cora, goma copal e algum minério de cobre. Abunda o pescado defronte do morro do Ambriz, em 120 a 140 metros de fundo.  «O rio dos Ambres, que na língua da terra se chama Ambriche, está numa enseada a que chamam Funta, em 7 graus e um terço do Sul. Sobre o rio vereis uma terra rasa; na ponta de Sul arrebenta o mar, e na mesma ponta está um mato verde e grosso : podeis chegar para a terra até ás 8 braças. Da banda do Sul deste rio, obra de uma légua, está uma ponta grossa, larga, escalvada, e o mar arrebenta na rocha: não tem praia, e a costa vai correndo para o Sul » . Corre a beira-mar, toda de barreiras altas, para SE41/4S., desde o morro do Ambriz até à enseada do Mossulo Pequeno, enseada compreendida entre duas pontas de pedra, apartadas uma da outra coisa de milha e meia, em cujo recôncavo desagua, através de espesso mangal, o rio Guezo (Little Mazula), de poucas posses. 

trecho costa marítima de Angola, do rio Loge à ilha de Luanda

costa marítima para Sul do Ambriz 

 costa marítima na região do Catembo

De seguida à latitude  
8º 28’ latitude, alcançou a embocadura do rio Dande, a que foi dado o nome de "rio de fernam Vaz mam de bairo", [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].
foz do rio Dande

À latitude 8º 44´52’’ Sul, entrou na "angra grandim",  baía da foz rio Bengo [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86] e  rio de Mabengo, [Esmeraldo de situ orbis  de 1502– Duarte Pacheco Pereira]; 

Feita aguada no rio Bengo  atingiu a ilha de Luanda povoada de pescadores, a que chamou ”Ilha das Cabras

A trinta e seis   Léguas, pouco mais ou menos; do rio Zaire ou rio padrão reconheceu a enseada ou baía , que depois se chamou de Luanda, fez antes aguada na foz do rio Bengo (rio Mabengo) e desembarcou nas ilhas-das-Moedas ou Ilha-das-Cabras (ilha-de-Luanda povoada de pescadores, da.ilha da  Caseange (Sao João Baptista de Casanga) ou (Cazenga) separadas uma da outra pela chamada barra da Curimba. onde as águas se misturam. Aqui, a tripulação se abasteceu de caça de pêlo e de peixe fresco.
baía da foz do rio Bengo

Esmeraldo de situ orbis  de 1502– Duarte Pacheco Pereira;

"Além deste Rio de que atrás falamos com trinta e cinco léguas de caminho pouco mais ou menos é achado um rio pequeno que se chama o rio de Mobengo e ali faz a terra uma pequena enseada que será pouco mais duma légua em roda da boca da qual estão duas ilhas pequenas baixas e rasas de pouco arvoredo que chamam as Ilhas das cabras e estas estão muito perto da terra e são povoadas de negros do senhorio de Muenicongo e ainda vai adiante a terra do Congo e nestas ilhas apanham os ditos negros uns búzios pequenos que não são maiores que pinhões com sua casca a que eles chamam de Zimbos os quais em terra de Muenicongo correm por moeda e cinquenta deles dão por uma galinha, e trezentos valem uma cabra e ali outras coisas segundo são e quando Muenicongo quer fazer mercê a alguns seus fidalgos ou pagar algum serviço que lhe fazem manda lhe dar certo número destes zimbos pelo modo que nossos príncipes fazem mercê da moeda destes reinos a quem lha merece; e na terra do Beni de que já é escrito no quarto item do sétimo capítulo do segundo livro usam uns búzios por moeda um pouco maiores que estes Zimbos de Muenicongo aos quais búzios no beny chamam Iguou e todas as coisas por eles compram e quem mais deles tem mais rico é;  correm por moeda de Muenicongo; e do Río-do-Padrão até o rio Mobengo e Ilha-das-Cabras. a terra, ao longo do mar, é baixa e de muito arvoredoe esta costa do dito Rio do padrão até às ditas Ilhas jaz norte sul e tem trinta e cinco léguas na Rota como em cima se faz menção e estas ilhas das cabras se apartam em latitude a linha equacional contra o pólo antárctico nove graus e por isto se podem conhecer; e ao mar destas ilhas nas trinta braças há muita infinita pescaria".

Actualmente o rio Mabengo é o rio Bengo,.
As ilhas-das-Cabras, a que Duarte Pacheco faz referência, são as actuais Ilha·de-Luanda- ao Norte, e a Ilha-de-Casanga (Cazenga)- ao Sul.
No meio delas, fazendo a separação, fica a chamada Barra-da-Curimba.

CURIMBA é uma palavra quimbúndica que significa MISTURA, na verdade por aquela barra nas marés as águas da baía de Luanda se iam misturando com as do mar  e vice-versa.

"ilha das Cabras" [ilha de Luanda] latitude 9º  Sul latitude Sul Esmeraldo de Situ Orbis de 1502- Duarte Pacheco Pereira, G..do mestre, [baía de Luanda], Planisfério dito de Cantino 1502

 baía da ilha de Luanda e contra -costa

habitantes locais apanhavam “zimbos”, célebres búzios pequenos, que corriam naquele reino, como moeda.

Quando  a guarnição chegou à ilha de Luanda, os africanos tomaram-nos por cadáveres vivos, “os vumbi”:
«Nossos pais viviam confortavelmente no planalto de Luabala. Tinham vacas e culturas: eles tinham salinas e bananeiras. De repente viram sobre o grande mar surgir um barco. Este barco tinha asas todas brancas, cintilantes como facas. Os homens brancos saíram da água e disseram palavras que não compreendiam. Os nossos antepassados tinham medo, dizendo que eram os vumbi, os espíritos vindos do outro mundo.»
Desta forma a proveniência clássica dos portugueses e do cristianismo provocou um estranho equívoco na mentalidade dos africanos. É que, na cosmogonia congolesa, a jazida dos defuntos situa-se na água e os espíritos dos antepassados encarnam no outro mundo em corpos brancos e vermelhos. Saídos do mar, os portugueses apareciam no domínio do sagrado e «eram reverenciados como deuses na terra», como afirmou a comerciante Duarte Lopes, que esteve no Congo no séc. XVI”.
costa marítima de Angola, da foz do rio Dande à ponta redonda do farol do Giraúl da baía de Moçâmedes, Namibe

Na edição latina de 1598, do livro -Regnum Congo, hoc est, Vera descriptio Regni Africani- de Duarte Lopes & Ptgafetta, vem assim anotada a fauna da ilha-de-Luanda, à página 8:

-Inveniuntur quoque in hac Insula, quamvis parva, magni hireorum, caprarum, ovium et aprorum greges, qu' non admodum etiam ftri in salvis se sustentant.

A tradução em francês deste livro da  Angola-Menina foi publicada, em Bruxelas no ano de 1883, por Léon Cahum e existe um exemplar na Biblioteca Municipal de Luanda:
-On trouve aussi dans cette ile, quoiqu'elle soit petite, de grands troupeaux de cerfs, de chèvre, de moutons et sangliers, qui ne sont pas· très sauvages, et trouvent leur norriture dans les boi.

"Também encontramos nesta ilha, embora sejam pequenos, grandes rebanhos de veados, cabras, ovelhas e javalis, que não são muito selvagens, e encontram sua pastagem no mato (bosque, campo)"

ilha do Mussulo

Abastecida as caravelas de caça e peixe fresco, riqueza local, a guarnição seguiu a sua rota.
Alcançadas, a baía da futura Luanda, a ilha do mesmo nome, da Cazanga  e Mussulo, separadas estas duas, pela barra da Corimba, a frota seguiu a derrota do Sul. 
Deixada a enseada ou baía de Luanda, e afastados da costa fez-se a guarnição mais ao largo, por causa dos ventos e correntes contrárias.
A 27 milhas náuticas a Sul da ilha do Mussulo, observou o “monte alto" montes da Lua," latitude 9º 19’ Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86], relevo adjacente à margem direita do rio Cuanza, cuja foz do rio   não foi avistada.
  miradouro dos montes da Lua

foz do rio Cuanza, Kuanza

Aproximando-se da costa, a 32 milhas náuticas da ilha do Mussulo e a 12 milhas náuticas da foz do rio Cuanza, a guarnição  entrou na “terra das duas pontas”, [ praia do Sangano], [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86], 9º 33’ lat. Sul
praia do Sangano

Esmeraldo de situ orbis, liv.III, Cap. 2º, Duarte Pacheco Pereira:

“ Passando vinte léguas além da Ilha das cabras está um ponta que chamam a ponta das Camboas e este nome lhe puseram porque quando Dieguo Caão Cavaleiro criado del Rei Dom João que Deus tem, esta terra descobriu, achou ali umas Camboas em que os negros pescavam e por isso lhe pôs o dito nome; e esta ponta é muito aparcelada e além desta acharam um Rio muito pequeno à maneira de esteiro e aqui não há comércio nem coisa digna de ser escrita somente que esta ponta jaz com a dita Ilha-das-cabras nor-noroeste e sul -sudeste e tem as ditas vinte léguas da rota e se aparta em latitude da linha equinocial contra o pólo antárctico dez graus e meio”.

A vinte léguas da ilha das Cabras, encontrou uma ponta onde os habitantes locais pescavam nas camboas, a que se chamou de “ponta das camboas”, [cabo de S. Bráslat. 9º 58’ 30” Sul. 
 baía e cabo de São Brás

"Camboas" são uns pesqueiros (represas de água); vedados por paredes ou muros de pedra ou adobes os quais ficam cheios de água  na preia-mar e, ao baixar as marés, deixam sair as águas os peixes miúdos, mas não os grandes que ficam retidos nas represas de água.

Está o cabo de S. Braz em 10º 1' 30" Sul e 22º26' Este, coisa de 16 milhas e meia para S41/4SE do Cabo LedoÉ também nua a terra compreendida entre aqueles dois cabos, excepto quase a meia distância entre eles, em 9º 51' Sul, onde se estende uma pequena praia de areia, denominada a Caverna do Diabo, e junto ao cabo de S. Braz, onde se encurva o seu tanto a costa para formar a baía de S. Braz, onde despeja o ribeiro Quesimi, e há sofrível desembarcadouro. É boa baliza para aquela baía uma barreira branca, muito visível, que se levanta para Sul do rio. Outro riacho desagua pouco mais para Norte, e cobrem-se de arvoredo as margens dos dois rios. Está por muito desabrigado, o ancoradouro na baía de S. BrazSobe a altura regular, e é talhado a pique, pedregoso e despido, o cabo de S. Braz. Diferença-se do Ledo por crescerem sobre ele três árvores que fazem como guarita, e a quem o vê da banda do Sul se mostra íngreme para o lado do mar, ao passo que o Ledo desce com declínio gradual. Denominado ponta das Gamboas em alguns mapas antigos
 
 baía do cabo São Brás. Como pode ser observado na foto acima, notam-se  represas de água junto ao cabo S. Brás provavelmente ainda reminiscências  das "Camboas" 

a costa marítima do cabo de São Bras até rio muito pequeno, onde provavelmente foi feita aguada 

A 22 milhas náuticas da ponta das camboascabo S. Brás, atingiu a foz dum rio, o  rio Longa, 10º 14’ Lat. Sul a fim de fazer aguada.
 foz do rio Longa

Esmeraldo de situ orbis 1502– Duarte Pacheco Pereira;

Jaz a Ponta das Camboas e a Ponta de São Lourenço norte e sul e tem vinte léguas na rota e esta terra toda é muito baixa e não é de tanto arvoredo como atrás fica”.

No dia 10 de Agosto 1483, à latitude  10º 45’ Sul , entrou na baía do  “.c. S. laurêci”  [mapa mundi Henricus Martelus Germanus (1489)] Benguela- à- Velha, actual Porto Amboim.
 baía do cabo de Porto Amboim
baía do Sumbe, praia do Quicombo e foz do rio Queve

Mais para Sul, rio do Paúl, rio Catumbela, latitude 12º 26’ 42” Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86],10 km a Sul do Lobito, onde fez aguada. Em plena estação do “cacimbo”, as águas do rio encontravam-se limpas, livres da sujidade das águas barrentas da época estival!
 foz do rio Catumbela
rio da Catumbela, região interior em Catumbela, 10 Km da foz do rio

Além da ilha- de-Luanda, a viagem foi rápida. 

Em vinte dias a guarnição navegou 368 milhas náuticas, do  rio Loge [rio da Madalena] ao rio Catumbela [ rio do Paul]. 

Despeja o rio da Catumbela de Água Doce , pouco menos de 9 milhas para SO 3/4S. da ponta do Lobito, e obra de 10 e meia para NE. de Benguela. Ficam naquele intervalo, pouco para Norte. do rio da Catumbela, as Salinas do NorteFacilmente se conhece a Catumbela, mormente quando vista do mar alto, pela grande quebrada por onde corre, e que interrompe as terras altas sitas a 4 milhas do mar. Dizem que vem esse rio das terras de Caconda, obra de 60 léguas para o sertão, e apesar de ter a barra entupida de bancos de areia, e não poderem entrar ali navios de porte, é tido em conta de muito caudaloso, principalmente no tempo das chuvas, em que sai do leito e alaga os vales vizinhos; dali resulta a fertilidade dos terrenos inundados, motivo por que se acham os arimos dos principais proprietários de Benguela nas margens do Catumbela : fazem também essas cheias com que seja inabitável, por muito doentio, aquele sítio durante parte do ano, e foi uma das causas que fizeram desvanecer a ideia, que vogou em 1836, de ser transferida para ali a cidade de Benguela.  Pouco para Norte., em 12º 27' Sul, se levanta um fortim. Há ancoradouro defronte do rio Catumbela, em 22 metros, e no rio se encontra óptima água para beber

Esmeraldo de situ orbis de 1502– Duarte Pacheco Pereira;

“ Além da ponta  de São Lourenço da qual atrás no derradeiro Item do segundo capítulo desta terceiro livro é escrito e começa uma angra de Santa Maria e ali vai à costa dali por diante direita e em dezoito léguas de caminho contando da angra de São Lourenço….”.

A 15 de Agosto de 1483 ancorou (fundeou) na “
Angra de Stª Maria ”, actual baía de Benguela, praia Morena,  12º 35’ 24” latitude Sul,   [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86).a fim de aparelhar as caravelas e folgar, por ser abrigo e porto seguro. 

Assenta a cidade de S. Filipe de Benguela, fundada em 1617 por Manuel Silveira Pereira, em terreno baixo e alagadiço, na margem de leste da antiga baía das Vacas, depois denominada de Santo António, e hoje de Benguela; cidade em que a primeira paróquia é de Nossa Senhora do Pópulo, cuja igreja é de pedra. Defendia-a a fortaleza de S. Filipe, ainda no séc. XIX, levantada à latitude 12º34'Sul, e que, apesar de ter sido reedificada por várias vezes, para pouco presta; tem capacidade para 40 peças, quartéis para governador e guarnição, etc, mas na altura tudo mau. Pouco para o sertão da cidade se erguem montanhas escalvadas, pelas quais, no tempo das chuvas, se despenham torrentes, que vem estagnar-se e formar pântanos. A essas águas das serras se juntam as extravasadas do rio Marimbondo, que em tempos ordinários anda sumido pelas areias. No século XIX  no trato desta pequena cidade; ali concorriam muitos navios da Europa, e alguns da América, a resgatar urzela, marfim, cera, goma copal, azeite de palma e de amendoim, couro, gado, mantimentos, algodão do que se colhia pelas margens do rio Cavaco, e do que para ali ia do Dombe Grande, etc. Também se obetia  em Benguela algumas vitualhas frescas, tais como gado vacum, legumes, galinhas, frutas, porcos, ovos. Tomava-se ali também, mas dificilmente, alguma água (do rio Cavaco; quase todos os seus habitantes a bebiam de cacimbas que sempre foi má. Erguia-se, como dissemos, a cidade de Benguela na costa Este, da hoje chamada baía de Benguela, e que primeiramente foi " angra de Santa Maria" depois das Vacas e  de Santo  António; estende-se esta baía desde a ponta do Cavaco ao Nordeste, junto à qual despeja, em 12º 31’ Sul (12°33'30.8"S 13°24'17.4"E), o rio Cavaco, e a ponta do Sombreiro, ao Sudoeste (12°34'51.6"S 13°18'05.6"E). São altas e pedregosas as duas primeiras milhas do Sudoeste, dali  para Norte. se mostra baixa e arenosa toda a terra até á ponta do CavacoSe bem que o porto desamparado contra os ventos do mar, desde o Sudoeste até ao Norte, os quais são por sua brandura pouco para temer nesta costa, onde as trovoadas quase sempre vem da terra, pode ser tido em conta de bom, por ser de segura pega o fundo e limpo de baixios, excepto perto da costa, onde se prolonga um banco de areia (parcel) que tem em vários sítios milha de largo, e cuja fundura não excede a 3 ou 4 metros, por diminuir rapidamente a profundidade junto à fralda desse banco, acertado  será não navegar nessas paragens em menos de 6  metros de fundo. Há bom ancoradouro em 19 a 23 metros, para Noroeste41/4Oeste ou Oeste43/4Noroeste da igreja. Fundeiam os navios mercantes em 6,5 a 10 metros mais perto da terra, mas era sítio muito açoutado, da maresia. Quase sempre difícil desembarcar em Benguela, por ali haver muito rolo de mar (muitas ondas) na praia. Indo do Norte em demanda de Benguela, o que primeiro se avista é a serra das Agulhas ou das Bimbas, que se ergue umas 15 milhas para Sul da cidade, e que em ocasião do tempo claro se avista as boas 36 ou 40 milhas da costa. Só de muito mais perlo da baía se percebem as terras do SombreiroÉ o rio da Catumbela  melhor marca para quem está ao Norte ou a Noroeste, da baía de Benguela, e o Sombreiro para quem vai do Sul, porque se vê desse lado à distância de 25 milhas. As vizinhanças do Sombreiro são limpas, e montado ele de dia se pôde deitar afoitamente para o ancoradouro. Se porém se tiver avistado aquele morro ao pôr do sol, e se se quiser demandar o ancoradouro de noite, deve-se dar resguardo à baixa ponta de S. José das Salinas, que lhe está ao 04N0 ; havendo incerteza na posição do navio encoste-se para EB, logo que se julgue montado esse cabeço, e procurem-se as funduras de 24 ou 25 metros, onde se poderá largar ferro. É útil este aviso, porque mais para Norte, perto da ponta do Cavaco, se acham de 19 a 24 metros, muito perto do parcel da costa, que se dilata naquela altura até a uns 500 metros da terra. Para Sudoeste da ponta do Sombreiro, se estende uma baía muito cavada, com 4 milhas de largo, dividida em duas, aberta para Norte e limitada pela banda do Oeste por uma península de areia, que termina na ponta de S. José das Salinas, sita em 12º35' ou 12º 36'30"Sul e 22''17'Este. Separa aquelas duas enseadas, que ambas têm bom surgidouro, e das quais se chama dos Monos ou baía das Vacas a do NE, uma ponta alcantilada, pedregosa e alta, que fica em 12º36' Sul, e se denomina do Macaco das Vacas.
baía de Benguela, praia Morena 

A esta  latitude, deparou-se uma forte corrente marítima fria vinda do Sul, “  Corrente Fria de Benguela”.

De salientar, a enorme influência exercida:

A Corrente Fria de Benguela, é uma corrente de águas frias acompanhadas de ventos frios que se movem no sentido Sul - Norte (contrária aos ponteiros do relógio) e que banham a costa ocidental meridional de África, desde o Cabo de Boa Esperança, passando pela Costa dos Esqueletos na Namíbia, pela Costa de Angola, até atingir  o Equador, onde vira bruscamente para Oeste, transformando-se na Corrente Equatorial Sul.
A Corrente Fria de Benguela tem origem no Oceano Glaciar Antárctico, alarga-se à medida que se dirige para Norte, chegando a atingir 300 Km de largura ao largo de Benguela.
O ponto de encontro dos oceanos, Atlântico Sul e Índico é também onde a Corrente Fria de Benguela encontra a Corrente Quente das Agulhas ao largo do Cabo de Boa Esperança.
O  encontro resulta numa mistura atribulada de águas e ventos quentes e frios, cuja diversidade dá lugar uma instabilidade acentuada de clima, a uma fauna marinha abundante, variada de peixes, aves marinhas e mamíferos marinhos.
O impacto da Corrente Fria de Benguela na costa de Angola é manifestado pelas condições desérticas da Costa dos Esqueletos e da Costa do Namibe, semi - áridas a Sul de Benguela, dos nevoeiros persistentes ao largo da costa meridional angolana.
Correntes marinhas são rios de água salgada, com temperaturas diferentes daquelas circunstantes, que correm no mar, segundo uma direcção bem precisa.
Uma enorme massa de água baixa dos pólos, fria, pesada, ao fundo do oceano, rumo ao Equador.
O deslocamento chama à superfície a água aquecida pelos raios do Sol, que é mais leve.
Tem-se, assim, um ciclo contínuo:
Dos Pólos ao Equador, fria e pesada.
Do Equador, aos Pólos, quente e superficial.
As correntes marinhas são devidas, além das diferenças de temperatura e de salinidade, de densidade, sobretudo aos ventos de estação, constantes ou a longo período, como os alísios e as monções.
costa marítima de Angola, da baía de Benguela à baía de Moçâmedes, Namibe

A 20 de Agosto, zarpou para Sul e reconheceu ocastel de alter pedrosomorro do Sombreiro latitude 12º 53’ Sul,  [mapa de Cristóforo Soligo de 1485/86.

Fica a ponta do Sombreiro , extremo Sudoeste Benguela, 6 milhas para Oeste1/2Sudoeste da cidade, da baía de Benguela,  em 12º'34'24"Sul conforme uns, e 12"35'30" segundo outros, e 22"42'7" Este. É um morro de grés muito friável, parte do qual resistiu ao sol e às chuvas, e outra se esboroou, o que lhe deu a feição que por todos os lados apresenta de um barrete de clérigoNo topo do morro dorme a som solto e sem luz um farol, que de farol só tem o nome.
morro do Sombreiro, vista para Norte 

rio Caporolo ou capololo 

praia do M'Binga, Benguela 

costa da praia do Equimina, vista para Norte 

Esmeraldo de situ orbis 1502– Duarte Pacheco Pereira

"Além da ponta de Sam Lourenço da qual a trás no derradeiro item do segundo capítulo deste terceiro livro é escrito e começa uma angra de Santa Maria e assim vai a costa dali por diante direita e em dezoito léguas de caminho contando da angra de Sam Lourenço em diante faz a terra uma ponta que há nome a ponta preta por quanto se faz ali uma manilha negra e a esta ponta lhe puseram este nome, e jaz a ponta de São Lourenço com a ponta negra norte e foi e tem as ditas dezoito léguas na Rota e esta terra não é de tanto arvoredo como há que atrás fica e esta ponta negra se aparta em latitude da linha equatorial contra o pólo antárctico treze graus e dois terços"..

Entrando numa baía abrigada de ventos e correntes, à vista de um ilhéu rochoso (280mx120 m), "ilhéu de Pina", actual   " ilhéu dos Pássaros", 300 metros de distância da costa, avistou o ,“Cabo do Lobo”,  latitude13º 42’ Sul  e   longitude 12º 53'Este, elevação: 91m / 299 pés [mapa de Cristóforo Soligo (1485/86) e planisfério dito de Cantino de 1502–“  c. S. Augustini”,[mapa mundi Henricus Martelus Germano (1489)] – “ponta preta”, [Esmeraldo de situ orbis, de 1502 – Duarte Pacheco Pereira]; actual cabo de Stª Maria,  onde ergueu a 28 de Agosto de 1483, o padrão de Stº. Agostinho, seguida de celebração de missa. 

Cabo de Santa Maria  (13°25'27"Sul e  12°32'02"Este) Fonte: (Descripção e roteiro da costa occidental de África desde o cabo de Espartel até o das Agulhas by Castilho, Alexandre Magno de, 1834-1871 . 

Levanta-se o cabo de Santa Maria a altura regular, mas dificilmente o percebe quem está ao Noroeste, por se confundir então  com as terras altas que o senhoreiam; nesse caso servem-lhe baliza as malhas brancas das barreiras da angra Santa Maria, aberta para Este  dele um monte que é solitário, e por isso muito patente, o qual se levanta muito a cavaleiro da costa e para SE4E do cabo. Mete-se bem aos olhos o cabo a quem vai do NO ou SO, por correr quase para NE4N a terra do Norte, ou para S4SO a do Sul. Ali fundou Diogo Cam, em I483, o seu segundo padrão, em 13º 27’ 15” Sul: consta de um pilar de pedra, que ao todo terá 2 metros de alto, formado de dois corpos, o inferior cilíndrico e o superior cúbico, duns 0,3 m de aresta; alardeia as armas portuguesas antigas na face do cubo que olha para Norte, e percebem-se-lhe ainda letras góticas nas outras três faces ; apenas se lê o número XXXI em carácter romano, na face que olha para Oeste. Além desses letreiros de antiga data, se vêem também E C, na face de E., e Serra do Pilar 10.05.54, na Ocidental. Para NE do cabo de Santa Maria está a angra do mesmo nome que mede 3 milhas de ponta a ponta e obra de milha e meia da linha das pontas á parte mais recuada. Obstrui boa parte da angra um ilhote areiento e alto, que se lhe assenta no meio dela, e que pode ser rodeado de embarcações pequenas: há 6,5 m de fundo perto desse ilhote e da banda da terra, e 41 da banda do mar. Divide-se pelo meio a praia da baía com uma ponta pedregosa que tem uma gruta escura. Defronte, e quase a meia distância entre aquela ponta e o ilhote  Jaz solapado um rochedo com 3,9m de água. Ao sopé do ilhote se apinham rochas descomunais, que parecem caídas dele; na maior, que é a que defronta mais com a terra firme, se vêem abertas as letras EC.Há bom surgidouro para embarcações costeiras na angra de Santa Maria e ao Sudoeste do ilhéu, em 24 metros, areia, para SE ou SE4E do cabo de Santa Maria ; ao demandar esse ancoradouro não se acha fundo antes de vencida a linha tirada do ilhéu para qualquer das duas pontas da baia; as primeiras prumadas serão de 65 ou 70 metros, e logo depois do 32 a 29. Só com vento feito se deve demandar esse fundeadouro. por se não poder ancorar nem ao Norte nem ao Sul dele, e arrastarem as correntes para a costa quando acalma o vento. Anda por 6,5m a 11 metros a fundura no braço de mar que vai por entre a ilhota e a terra firme, e por baixo desse braço, se enxergam de espaço a espaço, e mormente da banda terra enormes lajes escuras e chatas, que malham a água. Navios pequenos podem surgir encostados à ilhota e da banda de E ; mas como o vento que dá para entrar pelo Sul não dá para sair pelo Norte, será preciso esperar por vento de cima da baía, ou safar com reboques ou á espia. Tem-se, a cerca de milha e meia da beira-mar mais próxima, 3 milhas para SSO do cabo de Santa Maria e em 13º28' Sul, o ilhéu de Pina, com 15 metros acima do nível do mar; a sua feição é de dois cones rectos verticais sobrepostos um ao outro e unidos pelos vértices; distingue-se o ilhéu á distancia de 10 milhas, quando se encara de posição que o não deixa confundir com a terra, mas quando com ela se confunde só a 4 ou 5 milhas se reconhece. Estão sepultos dois penhascos entre o ilhéu e a costa, e terceiro pouco mais para Sul e perto da beira-mar. Pouco para Sul do cabo de Santa Maria, e defronte do ilhéu e Pina, desagua o rio Padrão, ou de S. João, de boca fechada em muitos estios.
 cabo de Santa Maria 

baía e cabo de Santa Maria

iluminura do assentamento do padrão de Stº Agostinho, no cabo de Stª Maria

ERA DA CREAÇÃ DO MUDO DE SEIS MIL BJLXXXJ ANOS DO NACIMENTO DE NOSSO SENHOR JESHU DE MIL CCCLXXXJJ ANOS O MUJ ALTO MUJ EICELETE PODEROSO PRINCIPE ELREY DÕ JOAM SEGUNDO DE PORTUGAL MÃDOU DESCOBRIR ESTA TERRA E POER ESTES PADRÕES POR DIOGO CÃO ESCUDEIRO DE SUA CASA”.

“Na era da criação do mundo de 6681 anos, do nascimento de Nosso Senhor Jesus de 1482 anos, o mui alto mui excelente e poderoso príncipe, el-rei D. João II de Portugal, mandou descobrir esta terra e pôr estes padrões por Diogo Cão, escudeiro de sua casa"
 inscrições do padrão de Stº Agostinho, sociedade Geografia de Lisboa. De notar a flor-de-lis e os escudetes laterais virados ao centro em vigor desde o ano 1383 a Março de 1485
De 1383 a Março de 1485
Nos reinados de D. João I, D. Duarte e D. Afonso V as armas reais apresentavam poucas alterações, sendo de notar as primeiras referências aos escudetes como “quinas”.
- Fundo branco
- Cinco escudetes azuis dispostos em cruz -os laterais apontados ao centro-
- Os escudetes possuíam cinco besantes (dois pontos - um ponto - dois pontos)
- Bordadura vermelha
- Diversos castelos dourados na bordadura
- Flor de Lis,  quatro pontas da cruz verde florestada da Ordem de Avis dispostas em cruz na   bordadura
 farol do cabo de Stº Maria, local aonde foi assentado o padrão de Stº Agostinho

 ilhéu dos pássaros na baía de Stª Maria

baía e cabo de Stª Maria 

A 27 milhas náuticas  para Sul  cabo de Stª Maria, entrou numa larga baía conhecida mais tarde por angra de Juã de Lisboa, mapa dito de Cantino de 1502, “actual baía de Lucira Grande”, 13º 52’ latitude Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86.onde tomou a latitude do lugar (14º). 

Entre o cabo de Santa Maria e a baía Vermelha, hoje de Lucira Grande, despejam os rios Bengueamoxito ou Dongue, em cerca de 13º33' Sul, e Cangala. Dizem que se funde o primeiro com o da Equimina a umas 2 léguas da costa, e desagua na enseada da Lapa, em 13º 40' S. Em 13"48'Sul está a enseada de Lucira Pequena, na fralda da Enseada  de grossos morros, e entre pontas também grossas. Há muito fundo perto dessas pontas, e pode-se surgir ali em 50 metros de Ancoradouro, a duas amarras da praia. Pouco mais para Sul, em 13º51' Sul, se estende Lucira Grande, baía vermelha , praia pouco maior que a precedente parecida com ela, e com suas montanhas ao fundo. Perto da margem  dessa baía se levantam várias feitorias, a maior   parte de  pesca e de apanha de urzela. e quase a meio se ergue um morro pequeno e cónico, amarelado junto à base, e pardacento no vértice. Em Lucira Grande se abrem as furnas naturais chamadas as Ventas de Chico Franco, e se percebe o leito de um rio, que vem por entre as terras altas. É lambem grande a fundura nessa baía, mas pode-se  ancorar  muito perlo da terra, em 50 metros, defronte da montanha piramidal. Segue-se, em 13º'53' Sul, a Caldeira do Cabo de Santa Marta, antiga acolheita de navios negreiros, compreendida entre a segunda ponta para Este do cabo de Santa Marta e o extremo Sul da baía de Lucira Grande; tem de 25 a 130 melros muito perto da terra. Fácil é entrar na Caldeira, mas para sair devem-se aproveitar os recalmões, ao calar da viração, e seguir a reboque até fora dos morros. Tem côr verde muito intensa o mar nas vizinhanças do cabo de Santa Marta, e na baía Vermelha. Ergue-se a altura proporcional o cabo de Santa Marta, sito umas 26 milhas para SiVtSO. do cabo de Santa Maria, e em 13" 54' 30" Sul c 21" 32' Este. É lodo listrado de faixas horizontais claras e escuras alternadas, e para Este dele se prolongam três pontas muito saídas, das quais pertencem à Caldeira as duas ultimas
Lucira Grande, vista para Norte

Lucira Grande, vista para Sul

baía de Lucira Grande, ao fundo o cabo de Stª Marta

baía de Lucira Grande, vista para Norte

baía de Lucira Grande, vista para Norte

 ponta das salinas da Bentiaba

A 5,5 milhas náuticas para Oeste da baía de Lucira Grande, dobrou o cabo de Stª Marta,  para Sul navegando até à ponta Sul das Salinas” actual S. Nicolau, designada de  “pradro”,  14º 11’ lat. Sul [mapa de Cristóforo Soligo 1485/86].
  ponta Sul das Salinas, Bentiaba

praia do Chapéu Armado

Para Sudeste da Ponta Sul das Salinas reconheceu:

ponta Sul do rio Piambo, da baía Mariquita ou Furado.
baía do Piambo

 praia da Mariquita ou Furado

praia da Mariquita

ponta Sul da baía de Baba
baía e praia de região da Baba

Mais para Sul ainda desagua o rio das Palmas, e quase defronte do monte Redondo, e em 14º 45' Sul, e 21º 47’ Este, sai a ponta de Santa Gertrudes, meridional de Obaba (Baba, por corrupção, e também chamada por alguns baía do Meio ou das Moscas), que é barreira baixa; ao Norte dela se prolonga praia de areia com seus médãos, e para o sertão se levanta terra grossa e clara. Tem Obaba feitorias de pesca, e ancoradouro muito desamparado, em 13 ou 15 metros, a coisa de amarra da praia; pouco mais fora se acham 30, 80, e depois 100 metros de fundo. Cerca de 6 milhas para Sul do monte do Velho corre quase paralela à costa, à distância de uns 400 a 600 metros, uma fiada de rochas, cuja mais alta tem 3 metros acima do nível do mar. Ergue-se o monte Redondo, que do feitio tira o nome, e que já por vezes tem sido confundido com o do Velho, pouco para Norte  da altura de Obaba. Este e outros de menos vulto, e que lhe ficam vizinhos, se chamam Mesas Grandes.

 baía do Mucuio

Divide a ponta de Santa Gertrudes a praia de Obaba da baía do Mucuio (ou da Tartaruga), que é aberta para Noroeste, mas onde há bom e abrigado surgidouro a sotavento da ponta Sudoeste, que fica a umas 6 milhas da precedente, em 14º50'Sul e é rasa, areienta e escura. Distingue bem a ponta Sudoeste. da baía do Mucuio quem a ver  do Sul. por se despegar então da costa ; dificilmente porém a percebe quem for do Norte, porque vista dali se confunde com a costa de Este, que é quase da mesma altura. Conquanto inspirem seu receio várias pedras que há junto à raiz da ponta Sudoeste do Mucuio, podem-na montar de perto por não deitar restinga. Há fundeadouro dentro da baía em 26, 29 ou 32 metros. 

A ponta Sul da baía das Pipas
praia da baía das Pipas

Outra baía, extensa mas muito aberta, a das Pipas (assim denominada porque em 1842 queimou a estação naval portuguesa grande cópia de pipas destinadas a embarque em navio negreiro, e que estavam armazenadas ali, fica em 14º 28’ Sul, umas 9 milhas para Sul do Mucuio. É mais pequena que esta, e tem bom ancoradouro em 19 ou 24 metros. Termina esta baia da banda do Sul em ponta esbranquiçada e cortada a pique direito ao mar, no focinho da qual se levanta o Gigante rochedo que faz de longe como sendo um navio de panos largos. Segue-se à  baía  das Pipas a semi-circular baía das Tartarugas, sita em 15" 4', moldada de morros chatos por cima. escuros e raiados de veios claros, que todos parecem convergir para o mesmo sitio e abrem por cima. Tem fundeadouro em 38 metros, e muito pescado. 

A  quebrada da foz do rio Giraúl. 
foz do rio Giraúl

Mais para Sul se divisa, em 15° 7', o chamado Portal ou Quebrada, do Girahulo {ou Giraúl), que é uma aberta nas barreiras, por onde sai no tempo das chuvas o río Girahúlo, ou Quenina. Depois vem a ponta do Girahúlo (cabo Euspa), extremo setentrional da baía de Moçâmedes. ou angra do Negro. Só por grandes chuvas é que desagua no mar o GirahúJo, cujo leito corre por entre vastos plantios. Perto de suas margens se levantam grandes morros escuros quase todos graníticos; tem nas vizinhanças minas de cobre e matas de madeiras de construcç3o. Nasce na serra de Chela.

ponta Redonda do Farol do Giraúl, de Moçâmedes, Namibe, conhecido pela guarnição de Diogo Cam como extremo meridional de África na 1ª viagem de exploração marítima , Setembro de 1483 

ponta Redonda do Giraúl, da baía de MoçâmedesNamibe, latitude 15°08'05.8"Sul e longitude 12°06'44.2"Este, elevação média: 19m / 62 pés, corre para Este e Nordeste.

A Ponta Redonda do Farol Giraúl, extremo setentrional da baía de Moçâmedes, ou baía do Namibe , também conhecida por Pontal Norte, encontra-se o Farol de sinalização marítima.

A uma distância de 7,7 Km separa esta ponta, da foz onde desagua o rio Giraúl a Norte.

 A Ponta Redonda do Farol Giraúl, é rasa, pouco saída, muito escura  e cortada a pique, com 36 m de fundo de pedra. Segue dali a beira mar para SE, obra de 800 metros = 0,5 milhas, até à Ponta Redonda. Desta ponta, declina a beira-mar para NE e NNE até ao porto Mineiro, numa extensão de 2,5 Km. 

 Da ponta Redonda do Giraúl ao potro Mineiro, a beira-mar é alta, íngreme, pedrada, negra e pontiaguda.  

 No porto Mineiro , uma inflexão da beira-mar para Sul, diferencia-se da ponta redonda do Giraúl, por ser baixa, até à foz do rio Béro, numa extensão de 5 Km se abre a baía do Saco do Giraúl, formando uma enseada de praia arenosa.

Um espesso manto de nevoeiro retirou toda a visibilidade da baía e região envolvente, dificultando deste modo a navegação  prosseguir a sua rota.

costa marítima de Angola na região da baía de Moçâmedes, Namibe

porto mineiro do Saco do Giraúl e baía de Moçâmedes, Namibe, ponto de inflexão da costa

A guarnição terminou ali a  1ª viagem de exploração marítima.
Animá-los-ia certamente, a vontade de prosseguir e desvendar o mistério da rota Oriental que os levasse até à Índia.
Convencidos da aproximação do “Promontório “Prassum”, do Mapa de Fra Mauro, onde começa o golfo arábico, decidiu regressar. Foi impossível continuar a exploração da costa ainda desconhecida. “Prassum”, cabo situado pela geografia ptolemaica no troço meridional da costa africana oriental.
Zarpando para Norte, algum tempo depois reentrou no estuário do rio Zaire [rio Poderoso], ancorando no porto de M´ Pinda, para recolher os dois emissários, um dos quais se chamava Martim Afonso, meses antes, Maio/Junho de 1483, os largara nas imediações de Nóqui perto da residência [M’ Banza] do Manicongo.
Não os encontrando, tanto em M´Pinda, 10 km da foz, como depois em Nóqui, 170 km da foz, supô-los cativos ou mortos.
Diogo Cão decidiu então, velejar para Portugal em Novembro de 1483. Não deixou sair do navio quatro homens, dos mais importantes, um dos quais era o Caçuta, que o visitavam com muita confiança e amizade.
«...e, polla muyta tardança sua pareceu ao capitão que deuião ser captiuos ou mortos (os embaixadores) e vendo que os negros da terra se fiauam delle, e entrauão já nos nauios, determinou não esperar os cristãos que mandara, e partir-se com alguns daquelles negros, e assi o fez». (crónica de El-Rei D. João II, Garcia de Resende, Cap. CLV).
Por acenos, o navegador disse aos homens da terra que os levava  para os mostrar ao rei de Portugal e  que provavelmente dentro de quinze luas, os voltaria a trazer, deixando ali, como prova de sua boa fé os portugueses enviados ao Manicongo.
Durante a viagem de regresso, o capitão tratou os hóspedes com mostras de grande respeito e amizade, ensinando-os a falar português.

Chegada a Portugal – Março/Abril de 1484

Quando chegaram a Portugal, foram levados à presença d’el-rei, os quais responderam a tudo o que D. João II perguntou, com muita admiração e contentamento de todos.
O Príncipe Perfeito, reconhecendo a sua apurada noção de justiça, fez o maior lisonjeiro e acolhimento.
El-Rei cumulou-os de atenções e dádivas, mandou a todos dar bom trato e ensinamento.
Para que os portugueses cativos no Congo não padecessem d’ algum mal enviaria Diogo Caão numa segunda viagem com ricas ofertas para o Manicongo, pensando convertê-lo num fidelíssimo aliado de Portugal, criando o desejo de fazê-lo cristão.
Os homens trazidos por Diogo Cão foram tratados, tanto na viagem como depois em Lisboa, com humanos desvelos, sendo instruídos na fé cristã.
Por eles veio o Príncipe Perfeito a enviar ao Manicongo “um presente rico de myutas, e boas cousas, e lhe mandou offerecer sua amisade e descubrir sua vontade, que era desejar sua saluação, conuidandoo com razões, e amoestações pera a Fee de Jesu Christo nosso Senhor, encomendandolhe que deixasse os idolos, e feitiçarias que tinha, e adorauão em seu Reyno, dandolhe pera isso muytas, e boas razões, que elle podesse entender, e dito de maneira que elle se não escandalizasse polla erronia, e idolatria em que viuia, que nisso teue el Rey muyto resguardado, e temperança pero com brandura o prouocar” [Crónica de el-rei D. João II, Garcia de Resende, Cap. CLV].
Uma vez chegado, D. João II, reconhecendo os serviços prestados, “..... Diogo Cão, assi tanto nas partes da Guiné como em outros lugares nos tem mui bem servido, em especial em esta ida onde o enviamos a descobrir terra nova nas ditas partes da Guiné, de onde ora veio...”, Carta régia de 4.04.1484, concedeu-lhe uma tença anual de 10.000 reais brancos.
Brasão de armas concedido a Diogo Caão [Cam] por D. João II. (Iluminura da obra seiscentista conhecida por Livro do Armeiro Mor, da autoria de João de Gross que se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo – Lisboa). Note-se que nas armas figuram dois padrões.

Seis dias depois 14.IV.1484, foi-lhe passado carta de enobrecimento, em que se atende não só os seus serviços, mas também aos de seu avô, Gonçalo Cão, no tempo de D. João I, nas lutas contra Castela, e aos de seu pai, Álvaro Fernandes Cão no reinado de D. Afonso V.
Feito nobre de cota das armas, “....os quais ele e os que dele descendem, por linha direita de legítimo matrimónio gerados, queremos e havemos por bem que tragam, pode usar as armas a que se referem na rub de Cão...”
Em português moderno o documento que notabiliza o valoroso navegador:
«Dom João II …A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que considerando nós como os virtuosos nosso Senhor para sempre outorga glória, e que assim em semelhança e imitação os bons Reis e príncipes, pois na terra, de sua mão não têm seu lugar e principado, devem dar honra aos que por virtude e serviços merecem, por onde os outros se chamem a bem fazer: Portanto, havendo nós respeito como Diogo Cão, Cavaleiro de nossa Casa, é dela merecedor assim pelos serviços que Gonçalo Cão, seu  avó fez a El-Rei dom João, meu tresavô, dando-lhe Badalhouce no tempo das guerras que havia El-Rei de Castela com o dito Senhor, e bem assim os que seu pai fez a El-Rei meu Senhor e Pai que  Deus tem, e por conseguinte aos que ele Diogo Cão fez ao dito Rei meu Senhor e a nós nas partes d’ África e também nas da Guiné, assim na paz como na guerra, e em especial nas ditas partes da Guiné, onde o ora enviámos a descobrir por serviço de Deus e trabalho da aumentação da nossa Santa Fé Católica, bem e acrescentamento de nossos reinos se haver e o fazer mui bem, e cumprir em tudo o que lhe mandamos, e assim nisto como noutros serviços obrar como homem esforçado, leal e desejador do nosso serviço e honra, e querendo-lhe isto em alguma parte galardoar como razão fazer aos que tais serviços fazem, e por lhe isso mesmo fazer mercê: Temos por bem e nos praz de nosso próprio motu, certa ciência e poder absoluto o separarmos, do número de plebeu e habilitamos e fazemos nobre de cota d’ armas. E lhe damos e outorgamos estas armas neste escudo pintadas, ordenadas por Portugal nosso rei d’ armas, as quais ele e os que dele descenderem por linha direita de legítimo matrimónio gerados, queremos e havemos por bem que tragam, como coisas próprias assim em cota d’ armas, elmo e escudo, como em todas as outras coisas em que os nobres e filhos d’ algo d’ antiga linhagem podem trazer.
E assim mesmo para desafiar, reptar, responder em corte e fora dela, e entrar em liças, raias, campos, batalhas, transes e em qualquer outros lugares de nobreza e honra, assim por mar como por terra, em paz e em guerra, e em tudo e por tudo gouvir de todas as honras, privilégios, liberdades, isenções e franquezas de que os ditos nobres e filhos d’ algo podem gouvir e o dito tão inteiramente como eles fazer. E porém rogamos e encomendamos ao Príncipe meu sobre todos muito amado e prezado filho, e aos outros que devemos rogar e encomendar, e mandamos a todos os corregedores, fidalgos, cavaleiros e escudeiros, e quaisquer outras justiças e pessoas que isto houverem de ver que hajam o dito Diogo Cão por nobre de cota d’ armas e os que dele descenderem como dito é, deixando-lhes trazer as ditas armas e  gouvir inteiramente de todas as ditas honras, isenções e franquezas sem lhe indo nem consentindo ir contra ele em parte nem em todo, em nenhuma maneira que seja, porquanto nossa mercê e vontade é o haveremos por nobre de cota d’ armas como em cima é dito. E suprimos e havemos por supridas quaisquer cláusulas que para esta nossa carta de enobrecimento ser mais firme e de vigor sejam necessárias e minguem em ele. E por lembrança nossa e segurança sua e de seus descendentes mandamos passar esta dita carta signada por nós e selada de nosso selo. E mandamos ao dito rei de armas que a registe em seu livro com as ditas armas para ele e os outros saberem como o dito Diogo Cão é nobre de cota d’ armas e fazer o que a seu ofício pertence. Dada na nossa vila de Santarém aos 14 dias do mês de Abril. Nicolau Eannes a dez, 1484»    
Grande foi a satisfação de D. João II ao tomar conhecimento dos resultados da exploração realizada por Diogo Cão; e logo um amplo galardão a traduz.
Nas duas cartas régias de 8 e 14 de Abril de 1484, o navegador foi dito «cavaleiro da nossa casa», enquanto no padrão de S. Agostinho aparece apenas como escudeiro; a elevação de categoria foi o primeiro acto régio de recompensa.
Análise do mapa/carta geográfica de Cristóforo Soligo de 1485/86

1ª viagem de exploração marítima da guarnição de Diogo Caão [Cam], à costa ocidental africana além do paralelo/ latitude 2º Sul 

A carta geográfica de Cristóforo [Cristóvão] Soligo, é o primeiro documento cartográfico do trecho da costa [orla marítima] ocidental africana da lat. 2º. Sul [Cabo Stª Catarina] no Gabão até aos 15º 8’ de lat. Sul [ Ponta Redonda  do Giraul ] da Baía de Moçâmedes, Namibe em Angola.
O traçado da costa ocidental marítima africana, inclui os actuais países da Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial, as ilhas de Fernão Pó, [ilha Formosa] e S. Tomé e Príncipe, também a costa marítima do Gabão, Congo Brazaville, enclave de Cabinda, Congo Zaire e dois terços da actual  costa de Angola.  Inclui as ilhas de Luanda e do Mussulo, e términos na Ponta Redonda do Giraul,  da Baía de Moçâmedes, Namibe Angola.

Depois da latitude 2º Sul, o registo sucessivo de;
Angra “, [Sette Cama – Gabão] – 2º 30’ lat. Sul.
Aguada“, [Baía da Mayumba – Gabão] – 3º 22’ lat. Sul
Duas moitas”, [Mamas de Banda – Gabão] – 3º 47´lat. Sul
“A Praia Formosa”, [ Luango – Brazaville] – 4º 38’ lat. Sul
praia  Loango, Congo Brazaville

A Terra da Praia Formosa de São Domingos”, [Ponta Negra – Brazaville]. 4º46’30’’Sul 
praia Ponta Negra

Ponta Branca”, [Lândana - enclave de Cabinda] – 5º 13’ lat. Sul
foz  rio Chiloango, Lândana

Ponta da Barreira Vermelha”, [Cacongo – enclave de Cabinda] 5º 14’ lat. Sul
Cacongo, Cabinda

Cabo do Paúl”, [MuandaRepública Popular do Zaire Kinshasa] 5º 56’ lat. Sul 
praia  Muanda, República Democrática do Congo

O rio Poderoso", o estuário do rio Zairie ou Congo e percurso superior. 

Os nomes dos padrões configuram a toponímia das datas da chegada [23 de Abril e 28 de Agosto de 1483]. 

A curiosidade de navegar pelo rio, despertou à guarnição de Diogo Caão, o ensejo de descobrir por esta via fluvial duma passagem até Quilóa, no oceano Índico, costa oriental africana. Ver  Mapa de Fra Mauro.
foz rio Zaire, Ponta do Padrão, península extrema margem esquerda

A guarnição conduziu os emissários até às imediações de Nóqui, lugar mais próximo da M’ Banza do rei do Congo, residente para Sudeste de Nóqui, no interior das terras na margem esquerda do rio a 20 léguas, 100 Km de distância.

rio Zaire,  região Pedra do Feitiço

A paisagem arborizada das margens do rio, constituída por centenas de canais (muílas ou mangais) despertou a curiosidade e o fascínio da guarnição. Aves exóticas, papagaios e outras, cruzam as margens do rio. Jacarés e hipopótamos habitam os canais de acesso ao rio.
península extrema na margem esquerda e Sul da foz rio Zaire, Ponta do Padrão

De notar a forte erosão da península devido à construção da base petrolífera da Muanda (Soyo)

O cartógrafo assinalou duas cruzes, uma na margem esquerda junto à foz do rio Zaire [rio Poderoso], outra no cabo de Stª
 Maria [cabo do Lobo]. A primeira o padrão de S. Jorge, a segunda o padrão de Stº. Agostinho.
 réplica do padrão  S. Jorge, Ponta do Padrão, foz rio Zaire

estuário do rio Zaire, baía de Diogo Cão Muanda, Soyo, Sazaire

À actual costa de Angola, a meados de Julho de 1483, reconheceu o “Cabo Redondo”, -7º 15’ 54” latitude Sul,  município do N’ Zeto – Ambrizete.
cabo  farol  N´Zeto, Ambrizete

A 23 de Julho de 1483, chegou à foz do 
rio Loge, “rio da Madalena”, – 7º 48’ 40” lat. Sul – onde fez aguada, explorando  a baía adjacente à actual vila do Ambriz.
barra lagoa das salinas Ambriz, foto Boléo

Ao rio Dande, chamou-se  “rio de Fernão Vaz” [monte de barro] – 8º 28’ 5” lat. Sul.
foz  rio Dande,pôr do Sol

À baía onde desagua o 
rio Bengo o de “Angra Grande” – 8º 45’ 7” lat. Sul.
Chegados à ilha de Luanda “ilha das Cabras”, -8º 45’ 39” lat. Sul – avistou rebanhos de cabras e homens na apanha do zimbo, concha ou búzio servindo de moeda de troca no Reino do Congo.
ilha Luanda

Era  uma espécie de feudo do reino do Congo, de enorme importância financeira. Ali viviam muitas pessoas, espalhados por algumas povoações de pescadores.
ilha  Mussulo

Contornadas as ilhas de Luanda e do Mussulo, a guarnição avistou o “Monte Alto” lat. 9º 19’ Sul. Navegando ao largo da costa não observou o famoso rio Cuanza.
montes da Lua,  Sul de Luanda

foz rio Quanza

Aproximando-se da costa, a 32 milhas náuticas , 60 Km da ilha do Mussulo, 20 Km da foz do rio Cuanza acostou à praia de Sangano, “Terra das Duas Pontas”– lat 9º 33’ Sul.
praia Sangano

Navegando ao largo do cabo Ledo com terra à vista, alcançou o cabo S. Brás, “Ponta das Camboas”, -9º 58’ 21” lat. Sul –). 
cabo  S. Brás

A 5 milhas náuticas para Sul do cabo S. Brás, ancorou as caravelas junto à  foz do rio Lomba a fim de fazer aguada.
foz  rio Longa

No dia 10 de Agosto de 1483 à latitude 10º 45’ 18 Sul, entrou no Golfo de S. Lourenço”, Benguela à VelhaPorto Amboim
baía de Porto Amboim



rio Cuvo ou Queve

A 8 milhas náuticas a Sul do 
rio Lomba atingiu o rio Cuvo ou Queve.
restinga Lobito
flamingos  área do Lobito

Afastados de terra,  alcançou a meados de Agosto a foz do rio Catumbela rio do Paul”, – 12º 26’ 21” lat. Sul – 10 km a Sul da cidade do  Lobito, cuja restinga não foi avistada.
foz  rio Catumbela

Soligo, assinala as ilhas de Luanda e Mussulo, como sendo o ponto mediano - ponto equidistante entre os padrões:  do rio Zaire [rio Poderoso] e do cabo de Stª Maria [ cabo do Lobo].
O percurso da costa marítima para Sul das ilhas de Luanda e Mussulo, até cabo de Stª Maria, é superior duas vezes, ao percurso da costa marítima da foz do rio Zaire às mesmas ilhas.
A exploração da costa para Sul do rio Zaire às ilhas de Luanda e Mussulo, decorreu em ventos e correntes marítimas desfavoráveis à navegação, a guarnição efectuou um melhor reconhecimento da costa.
Para Sul da ilha de Luanda e do Mussulo, os ventos dominantes de Sudoeste, associados à “Corrente Fria de Benguela”, propiciou às caravelas navegar em ziguezague e à bolina, enclinamento para bombordo, por forma a tornar a navegação  mais veloz. 
A guarnição  não efectuou um  melhor reconhecimento da costa marítima.
A derrota do trecho da costa marítima  da  [ ilha de Luanda  ao  rio Catumbela], efectuou-se em 10 dias.
Chegados ao rio Catumbela de águas limpas, a guarnição fez aguada..
A restinga do Lobito situada a 10 km a Norte do rio Catumbela, não foi avistada, a guarnição  navegava  ao largo da costa.
A 15 de Agosto a guarnição entrou na “Angra de Santa Maria ”, – 12º 34’ 21” lat. Sul – praia Morena de Benguela.
praia morena, baía de Benguela 

Por ser abrigo e porto seguro, a guarnição fundeou as caravelas. 
Apetrechando as caravelas de lenha, limpeza do forro dos cascos (de limos e teredo), muito activo em águas quentes, beneficiou a reparação do calafeto, do massame, das velas e mastreação.

A 20 de Agosto zarpou para Sudoeste, contornando o Sombreiro, que designou de "Castel dalter Pedroso12º 58' lat. Sul, a  Baía Farta e o rio Capulolo ou Capurolo.
rio Capulolo ou Capurolo

baía do Equimina direcção Sul 

À latitude de 13º 26’ Sul, atingiu o “cabo do Lobo”, actual cabo de Stª. Maria -, onde a 28 de Agosto de 1483, ergueu o Padrão de Stº. Agostinho.
cabo  e baía de Stª. Maria

farol cabo Stª Maria, local onde foi colocado o padrão de Stº Agostinho

baía de Stª Maria e o ilhéu dos pássaros ou de Pina

baía e cabo Stª Maria

Navegando 27 milhas náuticas para Sul (1 milha náutica = 1850 metros) entrou na baía  Lucira Grande, 13º 52’ latitude Sul, onde tomou a altura da passagem meridiana do Sol 14º (graus) registando a latitude local. 
 baía Lucira Grande e cabo de Stª Marta ao fundo e direita

Lucira Grande, vista para Sudoeste


Lucira Grande, vista para Sul

baía Lucira Pequena, vista para Norte


farol e cabo de Stª Marta 
Contornando a baía em direcção a Oeste, a 5,4 milhas náuticas dobrou o cabo de Stª Marta para Sul.
costa marítima a Sul do cabo de Stª Marta

costa marítima no Inamangano

praia da baía dos Elefantes

À actual Ponta Grossa ou Ponta Sul da Baía das Salinas, designou de Pradro" – 14º 11’ lat. Sul.
ponta Sul baía das Salinas, S. Nicolau e foz do rio Bentiaba

 praia do Chapéu Armado

A Sudeste da Ponta das Salinas na foz do "rio Bentiaba" latitude 14º 27' Sul , constata-se a delineação de quatro saliências ou pontas de terra que entram pelo mar, constituindo entre elas quatro baías.

A primeira a Ponta Sul do rio PiamboPonta da Mariquita ou Furado
baía do Piambo

baía da praia  Mariquita ou Furado

praia  Mariquita ou Furado

praia baía Piambo

baía  Baba

A segunda, a Ponta Sul da Baía de Baba, ou ponta de Santa Gertrudes latitude14°50'Sul.

Divide a ponta de Santa Gertrudes a praia de Obaba da baia do Mucuio (ou da Tartaruga), que é aberta para NO., mas onde há bom e abrigado surgidouro a sotavento da ponta SO., que fica a umas 6 milhas da precedente, em 14º50'Sul e é casa, areienta e escura.

Distingue bem a ponta SO. da baía do Mucuio quem a vir do Sul por se despegar então da costa ; dificilmente porém a percebe quem torna do Norte, porque vista dali se confunde com a costa de Este, que é quase da mesma altura.

Conquanto inspirem seu receio várias pedras que há junto à da ponta SO. do Mucuio, podem-na montar de perto por não deitar restinga. Há fundeadouro dentro da baía em 26, 29 e 32  metros.

baía do Mucuio

praia  baía das Pipas

A terceira a "Ponta da Pedra Gigante da Baía das Pipas" -lat. 14º 95' Sul

Outra baía, extensa mas muito aberta, a das Pipas (assim denominada porque em 1842 queimou a estação naval portuguesa grande cópia de pipas destinadas a embarque em navio negreiro, e que estavam armazenadas ali, fica em 14º58’, umas 9 milhas para Sul, do Mucuio. É mais pequena que esta, e tem bom ancoradouro em 19 ou 24 metros.

Fenece esta baía da banda do S. em ponta esbranquiçada e cortada a pique direito ao mar, no focinho da qual se levanta o Gigante rochedo que faz de longe um como navio de panos largos.

Segue-se à baía das Pipas a semicircular baia das Tartarugas, sita em 15" 4', moldada de morros chatos por cima. escuros e raiados de veios claros, que todos parecem convergir para o mesmo sitio e abrem por cima. Tem fundeadouro em 38 metros, e muito pescado

foz do rio Giraúl

A quarta a Ponta do Bambarol ou Portal ou Quebrada do Giraúl da foz do rio Giraúl, lat. 15º 07' Sul

Mais para Sul se divisa, em 15º 7' Sul, o chamado Portal ou Quebrada do Giraúl, que é uma aberta nas barreiras, por onde sai no tempo das chuvas o río Giraúl, só por grandes chuvas é que desagua no mar o Giraúl, cujo leito corre por entre vastos plantios. Perto de suas margens se levantam grandes morros escuros quase todos graníticos; tem nas vizinhanças minas de cobre e matas de madeiras de construcç3o. Nasce na serra de Chella
ponta Bambarol na  foz do rio Giraúl

 farol da Ponta Redonda Giraul, vista da praia das conchas, sentido Norte/Sul

zona Norte da ponta redonda do farol do Giraúl 

farol da ponta redonda do Giraúl

Finalmente, a delimitação de um cabo redondo extremo Sul da mapa, a Ponta Redonda do Farol do Giraúl à latitude 15º 08' Sul, 

Depois vem a ponta do Giraúl (cabo Euspa), extremo setentrional da baia de Moçâmedes. ou angra do Negro, corre para Leste  0,8 Km e Nordeste 2,5 Km, . Da ponta do farol ao porto saco  mineiro a orla marítima tem 3,3 Km.  

baía de Moçâmedes,  no horizonte o farol da Ponta Redonda do Farol do Giraúl, vista da ponta Grossa, Pau ou de Noronha. 

A guarnição entrou numa larga baía, baía de Moçâmedes - Namibe, sem dar por isso!

costa marítima da foz do rio Catumbela à ponta redonda do farol do Giraúl, baía de Moçâmedes, Namibe

O extremo Sul do mapa de Soligo, está assinalado  um cabo redondo (12),  o traçado da orla marítima  depois do cabo define, uma linha na direcção do ponto cardeal Nordeste e desaparece!

O cabo redondo desenhado, corresponde ao actual Ponta Redonda do Farol do Giraúl, da baía de Moçâmedes, Namibe, Angola.. 

 A Ponta Redonda do Farol Giraúl, extremo setentrional da baía de Moçâmedes, ou baía do Namibe , também conhecida por Pontal Norte, encontra-se o Farol de sinalização marítima.

A uma distância de 7,7 Km separa esta ponta, da foz onde desagua o rio Giraúl a Norte.

 A Ponta Redonda do Farol Giraúl está à latitude 15º 18' 82" Sul e longitude 12º 06' 56" Este. É rasa, pouco saída, muito escura  e cortada a pique, com 36 m de fundo de pedra. Segue dali a beira mar para Sudeste, obra de 800 metros = 0,5 milhas, até à Ponta Redonda

Desta ponta, declina a beira-mar para Nordeste e Nor-Nordeste até ao porto Mineiro do Saco do Giraúl, numa extensão de 2,5 Km. 

 Da ponta Redonda do Giraúl ao porto Mineiro, a beira-mar é alta, íngreme, pedrada, negra e pontiaguda.  

 No porto Mineiro , uma inflexão da beira-mar para Sul, diferencia-se da ponta redonda do Giraúl, por ser baixa, até à foz do rio Béro, numa extensão de 5 Km se abre a baía do Saco do Giraúl, formando uma enseada de praia arenosa.

 

recorte da costa marítima da foz do rio Catumbela à ponta redonda do farol do Giraúl, baía de Moçâmedes, Namibe  mapa de Cristóforo Soligo

ver foto seguinte da baía de Moçâmedes, Namibe

Notar o espesso manto nevoeiro envolvente! Posição (a) ………ponto referencial das caravelas vindas no sentido Norte/Sul. Posição (b)……….aproximação à baía do Saco, porto mineiro. Ponto  ( c ) …….....setas indicativas da corrente fria de Benguela, sentido oposto aos ponteiro do relógio, isto é Sul/Norte. Ponto (1) …………Ponta Redonda do Farol do Giraul, onde se localiza o farol de sinalização marítima. Ponto (2)………... Ponta Grossa ou de Noronha. Ponto (3) ………...Confluência ou inflexão costa marítima, no porto mineiro do Saco do Giraúl.

foto satélite da baía de Moçâmedes, Namibe 

 A guarnição dobrou a actual Ponta Redonda do Farol do Giraúlda baía de Moçâmedes – Namibe – Angola.(1e bordejou a orla marítima   pouco mais de 1 Km .

Da ponta onde se encontra o  farol de sinalização marítima, ao porto mineiro do Giraul, são 3,3 Km.

A orla marítima a partir do  porto mineiro do Saco do Giraúl (3), faz uma inflexão abrupta. 

Segue para Sudeste, Sul,  Oeste e Noroeste, até à Ponta Grossa ou  Noronha (2),  formando a baía de Moçâmedes.  

Do  farol da Ponta Redonda do Giraúl, à ponta Grossa ou Noronha, são 15 Km aproximados. 

 Porque motivo, a guarnição nesta 1ª viagem de exploração marítima,  não avistou o ponto de inflexão (3),  da  costa   da baía de Moçâmedes, bem como toda a extensão da beira-mar  passando pelo pela foz do rio Bero , baía do Saco Sul até à ponta de Grossa !?!:

porto mineiro do Saco do Giraúl, Moçâmedes, Nami

Quando aí chegou,  Setembro de 1483  viu-se confrontada por idênticas circunstâncias, nevoeiro cerrado! ver acima a foto satélite da baía de Moçâmedes!

ponta redonda do farol Giraúl, baía de Moçâmedes, Namibe

A corrente marítima de Benguela, corre no sentido Sul/Norte ponto (c) , contrária aos ponteiros do relógio.
Apesar das dificuldades adversas à navegação, [nevoeiro cerrado e correnteza marítima alterada, ondulação contra os rochedos do Ponta Redonda do Farol do Giraúl, a guarnição muda o rumo. 
Da direcção Sul  que levava posição (a), velas a meio pano,  tomou rumo ponto cardeal  Este, duas quartas de bombordo 90º graus, [lado esquerdo das caravelas].

                   

A Leste da ponta redonda do farol do Giraúl, entrada Norte da baía de Moçâmedes

 A  Oeste da ponta redonda do farol Giraúl

A Leste do farol da ponta  redonda do Giraúl 

vista da baía de Moçâmedes - foto obtida da ponta redonda do farol Giraúl no horizonte a ponta Grossa  ou Noronha, junto ao cais do porto marítimo

À vista dos rochedos altos e pontiagudos da Ponta Redonda do Farol do Giraúl (1), para Leste 1 km, e para Nordeste 2 km, aproximação à posição  (b) .

Na posição (b) , não avistou o ponto de inflexão (3), confluência da extracção do minério e porto mineiro do Saco Giraúl,  bem como a  extensão da orla marítima que passa pela foz do rio Bero, da cidade de Moçâmedes, Namibe do Saco Sul, do Porto Cais  e  Ponta Grossa, Pau ou  Noronha(2), formando a baía de Moçâmedes, devido ao espesso manto de nevoeiro cerrado que na altura se fazia sentir. 

A carta ou mapa de Cristóforo Soligo  de 1485/86, mostra inequivocamente o desenho dum cabo extremo, e a continuidade da linha da costa no sentido do Nordeste num limite claramente definido!

ponte de inflexão vista  para Norte  e para Sul da baía de Moçâmedes, Namibe, foto obtida do porto mineiro e aérea do saco Giraúl

Não se vê qualquer sinal de inversão do traçado da orla marítima para Sul ou Sudeste, o que indicia a nossa teoria descrita.

Não obstante as condições climatéricas de instabilidade, acresce o facto da guarnição se encontrar num mar incógnito, vulnerável e desconhecido. 

Não iria arriscar, a navegação  pelo nevoeiro por tempo indeterminado.
Uma vez que, os navios não podiam avançar, a guarnição viu-se constrangida a retroceder.
Dando meia volta à posição  ponto 
(b) , quatro quartas para estibordo [ lado direito das embarcações], efectuou uma manobra de 180 graus, retomando a navegação de velas a todo o pano em direcção a Oeste, posição (a) , a fim de  se fazer ao mar oceano.

De ventos de feição e da corrente marítima vinda do Sul, zarpou a Norte, deixando para trás o  tempo nebuloso.

Encontrada a latitude do cabo, 15º” 8’ Sul,  verificou corresponder à aproximação do “Promontório Prassum” do mapa de “Fra Mauro”, extremo Sul de África, onde começava o golfo arábico.
Iludida pela descoberta do extremo Sul do continente africano,  a guarnição ficou animada!

As portas do oceano Índico estavam definitivamente abertas?...

O regresso ao reino, passando pelo rio Zaire para recuperar os dois emissários que antes os enviara ao Manicongo, que em lugar deles trouxe 4 africanos, terminou seis meses depois no pátrio Tejo, princípios de Abril de 1484.

A aproximação ao promontório Prassum do Mapa de Fra Mauro foi anunciada ao rei D. João II de Portugal.
O monarca português encheu-se de contentamento e alegria.

A certeza desse convencimento está patente na oração de obediência ao Papa, proferida por Fernandes Lucena no dia 11 de Dezembro de 1485:

os portugueses estão a alguns dias de viagem de explorar o Golfo arábico, onde reinos e povos que habitam a Ásia, mal conhecidos de nós por notícias muito incertas, praticam escrupulosamente a fé santíssima do Salvador, efectivamente, descoberta já uma parte enormíssima da costa africana, chegaram os nossos no ano passado até perto do Promontório Prassum “.

2 comentários:

  1. Dear sir
    my name is Martino Sacchi. Your work about Diogo Cao is really interesting. I'm writing a book abok Age of Discoveries, and your ideas help me. I've a question: is it possibile to see Spitzkuppe from Ponta do Faralhones? And where is exactely Dias' Angra das Voltas?
    My mail address is: martino.sacchi@libero.it
    Than you
    Martino sacchi

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  2. Um magnífico e raríssimo documento que merecer ser bem divulgado especialmente pelos nossos jovens.

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